Esperanças perdidas.
Via Láctea esbranquiçada
Seu desejo de ser só
Leva a lua prateada
A ficar ao derredor
De uma terra iluminada
Que um dia será pó.
Memórias e ilusões
São as obras do ensino
São pedaços dos balões
Que soltei quando menino
São valores dos sertões
Que valoram o meu destino.
Sou feliz, realizado,
Muito embora seja pobre
Não fui bem ou mal casado
Também nunca fui um esnobe
O que tenho foi comprado
Pago com meus poucos cobres.
Não tenho mais ilusões
Meu destino está traçado
Vou vivendo os meus senões
Tendo a solidão ao lado
Vendo as desilusões
Como herança do passado.
No cadinho do desejo
Coloquei a esperança
No amor somente vejo
Cama, mesa e pajelança
Prefiro por meu ensejo
Demonstrar a tolerância.
Muitas vidas destruídas
Vão pensar que no futuro
Terão as vidas esquecidas
Por quem nunca foi tão puro
Mesmo se foram sofridas
Não farão o solo impuro.
Eu jamais imaginei
Que um dia fosse ter
Com alguém que encontrei
Coragem de prometer
De escrever o que pensei
Sem nunca aprender ler.
As verdades que falei
Quase nunca foram ouvidas
As mentiras que preguei
Sempre muito aplaudidas
As agruras que passei
Já estão quase esquecidas.
Muitas árvores plantei
Muitas flores cultivei
Alguns espinhos tirei
Dos conselhos que escutei
Hoje sei que nada sei
E também que nada dei.
Os anéis que enobreceram
Ricas damas de além mar
São seqüelas que nasceram
Noutro tempo, outro lugar,
Como sofrer renasceram
Para a si poderem olhar.
Muitas damas de escarlate
Que outrora insinuaram
Ao seu par deram descarte
Depois que dele usaram
Julgavam a vida uma arte
Para a qual pouco ligaram.
Fui descarte de donzelas
Hoje sou bem recebido
Sei, porém, que todas elas
Vivem de amor reprimido
Se as encontro vejo nelas
Um orgulho arrependido
Muitas rochas que avistei
Hoje são grãos de areia
As tristezas que curei
Hoje correm em minhas veias
Tudo aquilo que eu criei
Delas só tenho a meia.
Por que falo dessas coisas?
Pode alguém tal perguntar
Pouco importa se tais coisas
Não se podem comprovar
São, porém, as minhas coisas
Que o tempo há de apagar.