O olhar do medo
Disfarçado na floresta
Algo sobrenatural
Era motivo de festa
Pra população local
Que dizia que ela empresta
Cor ao Ser Celestial.
A coisa tinha aparência
De um troço aterrador
Tinha a luminescência
De um tubo sugador
Demonstrava preferência
Por pessoas de vigor.
Um soldado apareceu
Para ver o objeto
Mas ao vê-lo estremeceu
E ficou boquiaberto
Um artista o socorreu
Com palavras de afeto.
O sargento foi chamado
Pra falar com aquele troço
Sempre muito ocupado
Esqueceu até o Pai nosso
E trancou o cadeado
Dizendo o assunto é vosso.
O prefeito apareceu
Fingindo estar otimista
Claro que nele cresceu
O olhar de oportunista
Pensava no que era seu
Isso vai trazer turista.
Um atento deputado
Também la apareceu
Vinha todo apavorado
Saber o que aconteceu
Queria ser apoiado
Por quem nunca o conheceu.
Veio um vereador
Com o seu prestígio em baixa
Visto como enganador
Desviou fundos do caixa
Prometia o seu suor
Pra recuperar a faixa.
Em seguida o Promotor
Chegou junto com o Juiz
Cada qual dando um valor
Ao que viu como bem quis
Logo atrás um locutor
Explicando o que não diz.
Um professor estudado
Também la apareceu
Com mestrado e doutorado
Muitos prêmios recebeu
Mas ficou ensimesmado
Quando a coisa percebeu.
Um austero fazendeiro
Foi ver o que acontecia
Pôs no bolso algum dinheiro
Pois comprar ele queria
Mas sentindo estranho cheiro
Dessa compra desistia.
Um valente cavaleiro
Que passava na estrada
Perguntou a um vaqueiro
O porquê da gentarada
Em resposta recebeu
Essa gente não quer nada.
Alguém foi pedir socorro
Ao padre da reza forte
Que morava atrás do morro
E andava com um chicote
Na cabeça punha um gorro
Pra servir como um mascote.
Alguém chamou o pastor
Que era um bom servo de Deus
Expulsava com ardor
O demônio dos ateus
Exibia o seu fervor
Para convencer os seus.
Alguém foi ao macumbeiro
Pedir pra fazer despacho
Foi primeiro ao galinheiro
Para por frango no tacho
No alguidar pôs um dinheiro
Pra chamar o cabra macho.
Foi então que apareceu
Um mendigo da cidade
Alguém o reconheceu
Mas não viu necessidade
De alguém que já nasceu
Implorando a caridade.
O mendigo caminhou
Foi até o objeto
Calmamente ele falou
Você sabe o que é certo
Se aqui você pousou
É porque ficou incerto.
Você veio ao lugar certo
Aqui é o seu lugar
O seu par está por perto
E também quer descansar
Você é bastante esperto
Soube como disfarçar.
Chamou o padre primeiro,
O juiz, o promotor,
O prefeito, o fazendeiro,
O sargento e o pastor
O soldado, o macumbeiro,
O vaqueiro e o professor.
Todos foram examinar
Aquele estranho objeto
Que alguém pensou estar
Fazendo um mal manifesto
Descobriram ser um par
De coruja bem modesto.