Frei Dimão tece duras objurgatórias (99)

Antes que eu meta o badalo

exijo uma explicação:

a paciência foi pelo ralo

agora é só bem danação

Esse povo miserável

não aguenta mais sacanagem

parece até descartável

ao romper de mais u'a borragem

Onde anda a autoridade

que não vale u'a mera porra

é tanta calamidade

mais que Sodoma e Gomorra

Viver de exportar minério

coisa de subdesenvolvido

um país que se diz sério

teria melhor investido

E o Galo já está perdido

e isso não é apenas o início

com esse time podido

ser vice vai virando vício

Aquele pai cruzeirês

pra Londres o filho mandou

quando indagou pelo inglês

respondeu que co'ele se casou

Aonde havemos de chegar

com tamanha concupiscência

o Pai, do céu vai nos cegar

pra não vermos tanta indecência

Se amontoam minhas batinas

à espera dum bom cerzido

tenho que rezar as matinas

com o cinto desprotegido

A Nanda cansei de falar

que volte de novo a Roma

pra u'as batinas encomendar

contudo ela só me embroma

Uma praga eu vou rogar

naqueles espertos crentes

que só pensam em arrecadar

e obscurecer pobres mentes

Ao negarem a virgindade

daquela que anjo descobriu

tão negando toda verdade

de quem a Cristo pariu

Meu círio anda rateando

e com pouco quebro o tabu

de ficar só tateando

no breu sem Kathmandu

A cera que se derrete

em rápida proporção

de repente me submete

à mais cruel exposição

Eu já vou sentido um frio

a percorrer-me a espinha

enquanto curto é o pavio

e a vela só se esporrinha

Uma cerzideira das boas

sempre de cabeça erGuída

só suruba em Três Lagoas

e inda se diz perseGuída

E diz que não sai da linha

muito menos retrocede

mas a minha batininha

ela engoma mas não procede

Eu combato a perversão

até que os anjos digam amém

e ainda vou levar ao chão

esse facuriano harém

Hull, Xerezinha e Luna

que abraçaram uma outra fé

merecem minha borduna

que mantenho sempre de pé

Todo namoro de portão

eu coíbo como condeno

pois permite a ralação

pro cristão isso é maior veneno

Meu venerável cajado

de bom lustro anda à espera

e lhe basta ser alisado

para milagre que se opera

Tal como braço do Pai

tudo ele faz em socorro

que a ele vem ou vai

que se prepare pro jorro

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 08/11/2015
Reeditado em 11/01/2016
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