O desejo de amar.
O desejo de amar
Todos sempre têm algum
Todos podem desejar
Porém nunca mais de um
Pois se alguém exagerar
Passa a ser algo comum.
Não há sorte no desejo
De se amar um inocente
Não há sorte que eu não vejo
Ser, também, algo insciente
E pra tudo o que eu almejo
Sempre sou um pouco ausente.
Venham a mim os passarinhos
Venha a dor que eu suporto
Venham os pequenininhos
Cujos caminhos não corto
Venham as mães e seus anjinhos
Ver o amor que ainda porto.
Não sou mais que um sozinho
A viver na escuridão
Sou também um irmãozinho
A gostar da solidão
Sou assim professorzinho
A fazer minha lição.
Veja os versos, veja as rimas,
Veja o lápis sem borrão
É com ele que me ensinas
A pisar o próprio chão
Sou assim borracha prima
Sou, também, mata-borrão.
Sou mais um dos iletrados
Que não sabem o que é rimar
Sou por isso compensado
Sem saber como falar
Mas sou muito afortunado
Pois aqui tenho o meu lar.
Vejam as letras que rabisco
Vejam as rimas que encontro
Vejam o mar que não tem risco
Que no tudo é só um ponto
Vejam o céu que não tem cisco
Com estrelas que não conto.
Vejam a lua desbotada
Pela dor do desencanto
Vejam a flor despetalada
Cujo ramo tem um pranto
Vejam a rosa perfumada
Que pra dor é acalanto.
Por que tanto reclamar
Se não sabes por que chora
Tente sempre se alegrar
Em qualquer lugar e hora
Nunca pense em se voltar
Para a dor que há lá fora.
Siga com o companheiro
Que acompanha o seu andar
Dê a ele o tempo inteiro
Pra também ele alegrar
Nunca ande sem dinheiro
Para o pão poder pagar.
Suba o morro sem falar
Se cansar, sente e descanse,
Vá sozinho, devagar,
Mas no seu caminho avance
E quando ao topo chegar
Nunca olhe de um só lance.
O desejo de amar
Deve ser nosso porvir
Quando com ele encontrar
Sua voz saiba ouvir
Tenha sempre o salutar
Desejo de bem servir.