O Filho de João Aventador
Represento-me um nato testador
filho mais novo de jovem pedreiro
Eles o chamavam João Aventador
morreu antes de me ver seresteiro
Perante tanta loucura, tanto ardor
sai do meu lar quente e traiçoeiro.
A estrada desde cedo era corredor
na boleia eu era agulha no palheiro
Arriscava a vida como compositor
fazendo meio expediente de lixeiro
A demora me fez sentir um dissabor
desanimando um sonho por inteiro.
Fez nome como homem cumpridor
de seus deveres, juntava dinheiro
Dos amigos era grande cultivador
mas não conseguiu ser cancioneiro
Desistiu de tudo e virou um devedor
virou mais um ordinário quitandeiro.
Não quis casar, não encontrou amor
viu que era para ser um mensageiro
Ele ajudou dando alma, brilho e cor
com conhecimento ancião e rasteiro
Pouco a pouco era um propagador
do conhecimento puro e verdadeiro.
A morte buscou de modo revelador
dormia em seu singelo travesseiro
Deixou seu escrito como salteador
de histórias de um povo guerreiro
Seus bens foram para um curador
porque nasceu e morreu solteiro.
De sonhos era um jovem detentor
não era um religioso passageiro
Vivia com fé em todo o esplendor
era o orgulho daquele mosteiro
Que das missas era um seguidor
pois era devoto do seu padroeiro.
Ele jamais quis ser mero sedutor
somente quis ser um seresteiro
Foi filho daquele João Aventador
que saiu do lar quente e traiçoeiro
Para fazer uma história de amor
e tocou o coração dum povo inteiro.