O Filho de João Aventador

Represento-me um nato testador

filho mais novo de jovem pedreiro

Eles o chamavam João Aventador

morreu antes de me ver seresteiro

Perante tanta loucura, tanto ardor

sai do meu lar quente e traiçoeiro.

A estrada desde cedo era corredor

na boleia eu era agulha no palheiro

Arriscava a vida como compositor

fazendo meio expediente de lixeiro

A demora me fez sentir um dissabor

desanimando um sonho por inteiro.

Fez nome como homem cumpridor

de seus deveres, juntava dinheiro

Dos amigos era grande cultivador

mas não conseguiu ser cancioneiro

Desistiu de tudo e virou um devedor

virou mais um ordinário quitandeiro.

Não quis casar, não encontrou amor

viu que era para ser um mensageiro

Ele ajudou dando alma, brilho e cor

com conhecimento ancião e rasteiro

Pouco a pouco era um propagador

do conhecimento puro e verdadeiro.

A morte buscou de modo revelador

dormia em seu singelo travesseiro

Deixou seu escrito como salteador

de histórias de um povo guerreiro

Seus bens foram para um curador

porque nasceu e morreu solteiro.

De sonhos era um jovem detentor

não era um religioso passageiro

Vivia com fé em todo o esplendor

era o orgulho daquele mosteiro

Que das missas era um seguidor

pois era devoto do seu padroeiro.

Ele jamais quis ser mero sedutor

somente quis ser um seresteiro

Foi filho daquele João Aventador

que saiu do lar quente e traiçoeiro

Para fazer uma história de amor

e tocou o coração dum povo inteiro.

O Dissecador
Enviado por O Dissecador em 29/10/2015
Código do texto: T5431346
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