Taumaturgo
Ele ignorou o moço da chefia
Olhou com a raiva aduaneira
No meio da insana gritaria
Viu-se uma velha barraqueira
A reclamar da nossa ouvidoria
Vomitou um monte de asneira.
É a irreverente metodologia
Da procrastinação brasileira
Uma ode a sagrada patifaria
Que viaja nesta vida brejeira
Mudando apenas de rouparia
A bandidagem fica lisonjeira.
Cadê aquela intrépida rebeldia
Que amedrontava da lixeira
Os ratos podres da periferia
Perfilando-se a ira mais ligeira
De quem age com zombaria
Diante desta santa padroeira.
Eis que surgiu da democracia
Um cavaleiro d'alma guerrilheira
Não era da esquerda uma cria
Nem d'uma velha matraqueira
Ele não gostava de desarmonia
Mas matava quem era tranqueira.
A vida é a realidade que recria
Incerteza da certeza grosseira
A educação enfim se denuncia
O cordel da realidade derradeira
É a melancolia que nos resfria
A renuncia da alegria faceira.
Na verdade minha única garantia
Da vivida taumaturgia justiceira
Era a sinceridade desta heresia
Tudo é uma mentira milagreira
Onde a sobriedade se financia
No surrealismo da nossa bandeira.