Omertà
A ilusão que traz a tranquilidade
Conspira pela sombra do distúrbio
São pensamentos presos na carne
No instante elementar do escarne
Do rastro traumático do subúrbio
Ao astro trágico da desigualdade.
O homem em mim que reconheço
Desconhece a idade dos religiosos
Pois a tortura diária já foi relatada
A falsidade sobe a mente incitada
De bruxarias sociais e atos odiosos
É por isso da vida há pouco apreço.
Toda vez que se caminha pela rua
De tão crua, a verdade se faz suja
De tão nua, ela nunca se comporta
É funeral livre de pudores e portas
Na desistência sóbria lhe diz: fuja
Para uma existência que seja sua.
Não há escolhas no meio da guerra
Ainda mais quando ela não é velada
Onde velam cadáveres na luz do dia
Ignora qualquer louvor pela pele fria
A alma que agora foi desencarnada
Jamais saberá se tal luta se encerra.
O ser humano é da ala mais doente
Dos bichos que cultivam a crueldade
Rebeldes mantidos em berço de ouro
Beldades contidas em laços de couro
Na volitividade tétrica da bestialidade
Onde o objetivo é ser o mais demente.
E toda a coalisão se agrega na loucura
Na tessitura debelada da insensatez
Vive um extenso e antiético comércio
Que rasteja na maldita lei do silêncio
E subsiste-se bem na plena desfaçatez
E persiste que a morte é forma de cura.