Via Dolorosa

Não há santo que convença

Nem explicando com porrada

Parece que se tem descrença

A enchente traz a voz calada

O silêncio emana renascença

Desta cidade inteira afogada.

Pergunto sempre com crença

O que haverá nesta temporada

Parece que Deus vê indiferença

Em cada destruição reservada

O pobre parte para desavença

A compreensão foi martirizada.

Tem gente que vê malquerença

Quando a desgraça é anunciada

Morre-se de frio, tiro e doença

Se velho chega é alma sagrada

Que perdoe esta poética licença

Mas o capeta é nosso camarada.

Não vejo a hora que me pertença

Da vitória da população clamada

Diante das marcas de nascença

Perante as chagas da vida lutada

Os homens sabem da benquerença

Em olhar o brilho da lua estrelada.

Sinta esta estranha e vil presença

Entre crianças com cara amuada

A vista da realidade era a sentença

De vistas cansadas de alma chorada

Tanta dor que até aquele que vença

Manterá a sua mente angustiada.

Descerão dos tronos da descrença

Seres de verdade, de aura iluminada

Quem não se convenceu, convença

Pois a lágrima não é prova armada

A força que carrega desde nascença

E te ampara até tua última morada.

O Dissecador
Enviado por O Dissecador em 28/10/2015
Código do texto: T5429531
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