Via Dolorosa
Não há santo que convença
Nem explicando com porrada
Parece que se tem descrença
A enchente traz a voz calada
O silêncio emana renascença
Desta cidade inteira afogada.
Pergunto sempre com crença
O que haverá nesta temporada
Parece que Deus vê indiferença
Em cada destruição reservada
O pobre parte para desavença
A compreensão foi martirizada.
Tem gente que vê malquerença
Quando a desgraça é anunciada
Morre-se de frio, tiro e doença
Se velho chega é alma sagrada
Que perdoe esta poética licença
Mas o capeta é nosso camarada.
Não vejo a hora que me pertença
Da vitória da população clamada
Diante das marcas de nascença
Perante as chagas da vida lutada
Os homens sabem da benquerença
Em olhar o brilho da lua estrelada.
Sinta esta estranha e vil presença
Entre crianças com cara amuada
A vista da realidade era a sentença
De vistas cansadas de alma chorada
Tanta dor que até aquele que vença
Manterá a sua mente angustiada.
Descerão dos tronos da descrença
Seres de verdade, de aura iluminada
Quem não se convenceu, convença
Pois a lágrima não é prova armada
A força que carrega desde nascença
E te ampara até tua última morada.