CORDEL – Termos e expressões nordestinas (3) – 18.10.2015
 
CORDEL – Termos e expressões nordestinas (3) – 18.10.2015
Oitavas de sete sílabas poéticas
Rimas em ABABCDCD
 
Espero não estar cansando os meus prezados leitores com essa sequência de termos e expressões nordestinas. A verdade é que muita gente gostou desses nossos versos de cordel, e como escrevo para o público, como todos daqui do Recanto, não poderia parar por aqui, até mesmo numa forma de agradecer aos que me visitaram e também àqueles que comentaram esse trabalho.
 
Baile caseiro é “Assustado”
A conhecida “Tertúlia”
Pois o jovem animado
De dançar tanto, borbulha,
Ir por caminho mais curto
Nada mais é que “Ataiar”
Não precisa tomar susto
Resumindo: É “Atalhar”
(2)
Mas tem tal de “Atarentado”
No nosso vocabulário
Pode ser “Aperriado”
Não se fala de otário
Pois isso não tem sentido
Pode ser “Desnorteado”
Ou talvez estar “Perdido”
Bem no meio do roçado
(3)
Quando se estiver com pressa
Dizemos é “Avexado”
Então o cara confessa
Poxa, estou “Azogado”,
E não há quem me conteste
Porque estou “Puto” e “Brabo”
Assim “Virado na peste”
Resumindo: “Agoniado”
(4)
Mas quando “Alguém desligado”
Não liga pra coisa alguma
Diz-se que está “Azuado”
Não suporta nem dar uma
E resolve “Dar o fora”
Isso se chama “Azular”
Pois pra sair não tem hora
Não adianta adular
(5)
“Puxa saco, xeleléu”,
O conhecido “Babão”
Nenhum deles vai pro céu
É melhor lamber sabão
“Bacurim” é porco novo
“Baitola” é um veado
Está na boca do povo
E mesmo discriminado
(6)
“Baixa da égua” é distante
“Baixar lombo”: Emagrecer
E daqui vamos avante
Não podemos esquecer
“Balançar a tanajura”
É simplesmente dançar
“Baladeira” é estilingue
Ninguém pode duvidar
(7)
“Baldear” é perturbar
Mexendo com quem tá perto
Pode ser azucrinar
Isso eu arrisco, decerto,
“Bamba” é cambaleante
Sujeito sem equilíbrio
Não é cabeça pensante
Mas tem o nosso convívio
(8)
“Banca”, reforço escolar,
Que muita gente precisa
É aula particular
Que deve ser bem concisa
“Banda” é lado, lateral,
Ou mesmo até um pedaço
Que se come e não faz mal
Deixando só o bagaço
(9)
Mas tem o “Banho de asseio”
Em que se lava somente
Digamos só de meneio
Pra enganar essa gente
Pois só órgão genital
Será beneficiado
Pode ser água com sal
Pra ficar tudo aprumado
(10)
Tem o “Banho sapecado”
Rápido e incompleto
Ligeiro e mal pensado
Mas dele não sou dileto
Lembrei-me do “Barnabé”
Quando vi a sepultura
Funcionário que é
Dessa nossa prefeitura
(11)
O porco reprodutor
Que também pode ser novo
É o “Barrão” meu doutor
Adorado pelo povo
O “Barreado” é confuso
Sem saber o que fazer
De vez em quando um intruso
 Até não sabe dizer
(12)
“Batente” é um obstáculo
De madeira ou de concreto
Pra subir um espetáculo
Alguns que só por decreto
É construído no chão
Pra impedir que a água
Pela porta passe não
Porque senão tudo alaga
(13)
Mas “Bater a caçuleta”
É o mesmo que morrer
Morar num outro planeta
Daqui desaparecer
“Bater fofo” é falhar
Não cumprir o compromisso
Até mesmo não pagar
Ficando de vez submisso
(14)
“Bater uma” é masturbar
Em intenção de alguém
O galho dá pra quebrar
Infeliz de quem não tem
“Batoré” é um baixinho
Não se trata dum anão
Sempre é um coitadinho
Não tira coco de mão
(15)
“Beber com farinha” será
Ingerir álcool demais
Querendo se embebedar
Tem muita gente capaz
Mas a “Boneca de pano”
Conhecida por “bebéu”
Geralmente não me engano
Sou puro e vou para o céu
(16)
“Beiço” não é mais que lábio
“Bem empregado” é bem feito
Já dizia o grande Fábio
Um cara grande sujeito
É o mesmo que dizer
Castigo bem merecido
Nunca mais vai esquecer
Fica tudo corrigido
(17)
Pois “Bença” é um pedido
Que se faz aos nossos pais
E bastante comovido
Deixa tudo nos anais
O “Beiju” é guloseima
De massa de mandioca
E quem não sabe não teima
É melhor comer pipoca
(18)
O “Beradeiro” é matuto
Até mesmo um tabaréu
Que nunca será astuto
Nem mesmo lá no “Beréu”
Zona, baixo meretrício,
Cabaré também se aceita
Lugar que suporta o vício
Deus me livre da receita
(19)
E o que seria “Bestar”?
Não faço a menor ideia
Não seria bobear!
Invés da moça uma veia
“Bexiga” é coisa ruim
O “Bexiguento” não presta
Não é bom falar assim
Senão o povo contesta
(20)
“Biboca”: O que será?
Um beco ou lugar estranho,
Apertado de lascar
Escondido, sem tamanho,
Inda pode ser estreito
Querendo pode escolher
Que não pode ser defeito
Vou discordar de você.
 
Ansilgus
 29/10/2015  - Aila Brito interagiu como abaixo, grato:
Espetacular! Uma obra primorosa... Adorando esse teu novo estilo de cordel. Muito bom conhecermos os vocabulários de outros lugares brasileiros. É interessante; nossa cultural é diversificada, é extraordinária! Parabéns!
 
 “Pelas bandas” do Mará
 Pro lado do Maranhão
Muita expressão vi por lá
“Coalira” é Viadão
“Escangalhar” é quebrar
Qualquer coisa com defeito
Tanto faz esculhambar
Tenha ou não um bom conserto.
 
 
29/10/15 22:26 - Miguel Jacó mandou a sua interação...grato:

Nas barrancas do sertão,
A gramática é caseira,
A compra se faz na feira,
Amor se faz é no chão,
Moça nova é parideira,
E coroinha é sacristão,
Quem cura é a benzedeira,
Quem faz feitiço é o cão.

Boa noite Ansilgus, parabéns pelo primoroso levantamento gramatical da
nossa senda sertaneja nordestina, e minhas reverências a primorosa
interação Aila, um abraço a vocês, MJ.


31/10/2015  - Levi Madeira interagiu assim:
Desde quando era menino
 Quando no céu trovejava
 Dizia-se ser mormaço
 Logo a chuva despencava
 E quem tinha um amor distante
 De saudade lamentava
 Ao trovejar distante
 Após a relampejada .
 
 Parabéns Ansilgus pela produção contínua e enriquecedora da literatura de cordel.
07/11/15 10:05 - Orpheu Leal fez a seguinte interação, muito grato

O CORDEL FICOU BACANA

 E EU NÃO VOU FICAR QUIETO
 ELE A NINGUÉM ENGANA
 COM ESSE BELO DIALETO.
 
Parabéns Mestre ansilgus, assim
aprendi novos e interessantes termos regionais. Muito bom, nota DEZ!
Um abraço
.
 
ansilgus
Enviado por ansilgus em 27/10/2015
Reeditado em 07/11/2015
Código do texto: T5429283
Classificação de conteúdo: seguro
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