Sou eu.
Sou eu voz da esperança
Sou eu quem lhe dá a vida
Sou eu que quando criança
Cuidei e lhe dei guarida
Sou eu que dou a lembrança
Sou eu quem lhe dá a lida.
Sou eu quem bebeu na taça
Sou eu quem da vida trata
Sou eu quem inventou a traça
Sou eu quem criou a mata
Sou eu quem pôs flor na praça
Sou eu quem dá brilho à prata.
Sou eu quem rega o jardim
Sou eu quem inflama a neve
Sou eu quem me fiz assim
Sou eu a pena que escreve
Sou eu quem não teve fim
Sou eu quem tudo lhe deve.
Sou eu quem vive na tenda
Sou eu quem ouço as promessas
Sou eu quem promete a venda
Sou eu quem nega a remessa
Sou eu quem prepara a prenda
Sou eu quem passa depressa.
Sou eu o forte desejo
Sou eu quem te deu a cama
Sou eu forte relampejo
Sou eu quem lava o pijama
Sou eu quem dá o desejo
Sou eu vontade que engana.
Sou eu mais um passarinho
Sou eu a gaiola aberta
Sou eu quem não vai sozinho
Sou eu quem pedrada acerta
Sou eu mais um seu vizinho
Sou eu quem te deixa alerta.
Sou eu quem te ouve a voz
Sou eu o amigo oculto
Sou eu carga mais atroz
Sou eu de uma nau o vulto
Sou eu um andar veloz
Sou eu o pesado insulto.
Sou eu quem te dá o sol
Sou eu quem lhe nega a sombra
Sou eu quem te faz de anzol
Sou eu quem também assombra
Sou eu quem lhe mostra o sol
Sou eu quem floresta tomba.
Sou eu quem vive nos mares
Sou eu quem dá plantação
Sou eu quem tira os pesares
Sou eu quem dá o perdão
Sou eu quem dá os falares
Sou eu quem estende a mão.
Sou eu quem vive nas ruas
Sou eu quem lhe pede um pão
Sou eu quem namora as luas
Sou eu quem não tem um chão
Sou eu quem dá vida em duas
Sou eu o ar do pulmão.
Sou eu a força do vento
Sou eu a brisa da noite
Sou eu o raiar do tempo
Sou eu o penar do açoite
Sou eu o valor do invento
Sou eu quem pede um pernoite.
Sou eu quem tira a fome
Sou eu a própria miséria
Sou eu quem de tudo come
Sou eu quem não tira féria
Sou eu quem na vida some
Sou eu quem vive em pilhéria.
Sou eu a voz que ensina
Sou eu a mão que castiga
Sou eu a luz que ilumina
Sou eu quem carrega intriga
Sou eu quem ira rumina
Sou eu quem separa a briga.
Sou eu o chão que balança
Sou eu desejo da carne
Sou eu o mal que avança
Sou eu a paz do desarme
Sou eu fiel da balança
Dou eu o seu desencarne.
Sou eu quem lhe tira o brinco
Sou eu quem lhe corta as unhas
Sou eu quem lhe abre o trinco
Sou eu o bem que supunhas
Sou eu quem amassa o vinco
Sou eu a arma que empunhas.
Sou eu o pó da vivenda
Sou eu a mó do moinho
Sou eu o balcão da venda
Sou eu colar do meirinho
Sou eu verdadeira lenda
Sou eu a buscar o ninho.
Sou eu o próprio fracasso
Sou eu quem chegou agora
Sou eu da uva o bagaço
Sou eu o jantar na hora
Sou eu o rir do palhaço
Sou eu quem já foi embora.
Sou eu quem não tem mais tempo
Sou eu quem vive a vagar
Sou eu quem caminha lento
Sou eu o mais forte andar
Sou eu o mais forte vento
Sou eu mais leve que o ar.
Sou eu o triste tormento
Sou eu o feliz viver
Sou eu falta de alimento
Sou eu a mesa fazer
Sou eu o triste momento
Sou eu o feliz prazer.
Sou eu quem a dor assombra
Sou eu quem amor conduz;
Sou eu quem o orgulho tomba
Sou eu quem espalha a luz
Sou quem porta não arromba
Sou eu, seu irmão Jesus.