CORDEL DO CHILIQUE PRA OTÁRIO VER

Os dias eram uma emenda difícil

Impossível de se suportar

Pelo tempo que corria em riste

Mas que aos nobres era um solto cabide !

Pra que de um povo tão triste

Não tivesse mais o que se levar.

Havia no tão sofrido cenário

Um projeto pra lesar bom otário!

Que pudesse na fala acreditar

Que a todos se ia trabalhar...

Só pra vida um dia lhes mudar;

E por vil discurso bonito

Nos palanques, nobres tinham chilique

Mas era só para o mundão enganar!

Na estória de tristes cinderelas

Todo mundo teria dia de festa!

Todo dia seria dia de bem bom...

Nunca mais vida de triste chão.

No palanque as poses das mais chiques

Personagem tinha mais um chilique!

Se um otário lhe ousasse duvidar...

Das palavras ditas só para enfeitar.

E o tempo então se foi passando

E os otários se foram acordando...

De repente já era multidão!

De gente sem dinheiro pro pão;

Mas discurso continuava bonito,

Num look sempre mais atrevido

Do tudo de melhor dos bão!

Comprado com o aceite do otário

Que agora já nem tinha salário,

Para por sua mesa no chão.

E o desfile era para o mundo ver!

Que o pobre haveria de ter

Todo o chique da passarela

Para as dores de cada viela;

Das rendas em palanques de seda

Da mais bela das tramas francesas!

Aos sapatos da Louis Vuitton

Brilhantes, pérolas preciosas

Farturas das mais gostosas!

Para a posse do Reveillon...

Se acaso um otário duvidasse

Das nobre intenções dos desfiles

Novamente com dedo em riste...

E com discurso já bem decorado

No notório do vil descompasso,

A nobreza tinha outro chilique!

Só queriam às benesses aos chiques!

E se o mundo enxergasse lá fora...

Com lupas que ampliam o agora,

Os nobres já faziam alquimia

Para que da caixa de Pandora...

Não saíssem os seus males pra fora.

Então viria outra promessa:

E tão logo se abria novo discurso

Esboçava-se outro fim do mundo!

Parecia mesmo o apocalipse

Com os nobres tendo nobres chiliques...

Paradas no alvoroço da pressa...

As bolsas todas estavam em queda

Do povo...e das turma das festas...

Mas acharam uma nobre solução

Para todo otário de plantão:

O dólar eles levariam pra lua

Os "ductos" rolariam pra marte

Assim nesta história, destarte

Deixariam a Terra toda nua

Só tristeza já por toda parte...

Cenário para os bons nessa arte

De fazer do tudo desolação

Ao otário de bom coração.

Ao final do cordel do chilique

Como se eu fosse uma otária bem chique...

Coloco minhas letras em riste

Presente dado com devoção

Aos nobres da minha inspiração

Repleta de otária emoção!

Mas dizem que em hora oportuna

Houve fala de rima gatuna

Para o mundo todo acreditar

Que está tudo no devido lugar.

Só que o nobre teve alto soluço

Ao negar toda corrupção

Já caiu em plena contradição:

Porque ainda se tem de montão!

Encheu o peito de ar todo chique

Ensaiou só mais um chilique

E se pôs a alto esbravejar

Que de tudo fez para mudar

O rumo do simplório povão...

Que ficou sem ter nada na mão.

Recitou-lhes em douto argumento

Que luta contra o desmatamento

De uma árvore para cada momento

Assim como tem um vestuário

Para um novo engano do otário...

No gogó... mandou outro convite

Ao otário que embora tão triste

Lhe deu toda sua boa intenção.

Desceu o salto do palanque

E espalhou nobre nota dum Armani...

E pensou:

"O povo que se dane ..."