O portal da esaperança.
Suportei a minha prova
Com a força que ganhei
Minha fuga era a trova
Da qual nunca me afastei
Mesmo sendo coisa nova
Hoje escrevo o que falei.
No portal da minha casa
Uma vez li uma estrofe
Que dizia quem tem asa
Voa alto e muito sofre
A fortuna sempre atrasa
E ninguém carrega cofre.
Tenha a paz sempre consigo
Leve em si a confiança
Seja sempre um bom amigo
Saiba respeitar criança
Para quem for mais antigo
Assegure a tolerância.
As estrofes decorei
Sem saber qual o sentido
Mas um dia eu comentei
Como eu tinha entendido
Do meu filho eu escutei
O meu pai está perdido.
Perguntei pra minha dama
O porquê da reprimenda
Ela me expulsou da cama
Mandou-me tomar emenda
Percebi que não me ama
Vê o amor como uma lenda.
Fui aos poucos desgostando
De viver naquela casa
Devagar fui me afastando
Com uma dor que arrasa
E ficava meditando
Vendo o meu fogão sem brasa.
Certo dia eu levantei
Me sentindo angustiado
Ao meu filho abençoei
Pra mulher deixei recado
Eu aqui não voltarei
Não quero ser procurado.
Comecei minha jornada
Era hora de partir
Era longa a caminhada
E não tinha aonde ir
Mas segui a minha estrada
Sem comer e sem dormir.
Vi um dia um estradeiro
Que de mim aproximou
Disse que foi o primeiro
Que o tempo espoliou
Antes teve o seu dinheiro
Mas que nada lhe restou.
Perguntei como sabia
Que o tempo o assaltou
O que fez ele queria
E ninguém o obrigou
Na verdade ele escolhia
O destino que encontrou.
Ele me olhou de lado
E me disse a lamentar
Eu estou abandonado
Porque eu deixei o lar
O que eu tinha guardado
Recusei a carregar.
Fui andando pelo mundo
Sem pensar em retornar
Cada dia ia mais fundo
Na esperança de encontrar
O fundo do lago imundo
Para eu me afogar.
Eu olhei aquele amigo
Cuja sorte era cruel
Eu também não tinha abrigo
E também andava ao leu
Não sabia o que me espera
Que por certo não é céu.
Eu lhe disse simplesmente
Cada um faz jus ao seu
Que é dado de presente
Mesmo se for um ateu
Há um Ser onisciente
Que não tira o que nos deu.
Numa fria madrugada
Esse amigo levantou
Disse que a sua estada
No momento terminou
Ia seguir a jornada
Pra ver quem abandonou.
Ao chegar à sua casa
Pediu pra ver o seu filho
A mulher limpou a casa
Tinha no olhar um brilho
No fogão colocou brasa
Repetindo um estribilho.
Nesse estribilho havia
O viver de uma criança
Que ali chegara um dia
Como prêmio da mudança
Trouxe como companhia
O portal da esperança.