O canto do cisne
Alguém disse que o viver
É estar apaixonado
É saber compreender
As dores do bem amado
E, também, retroceder
Quando for prejudicado.
Eu, porém, vejo o viver
Como estrada pro futuro
Tentando compreender
Por que o coração duro?
E também tentar saber
O que está atrás do muro.
Vejo a vida como um dia
Que durou eternamente
Houve chuva e noite fria
E também cobertor quente
Houve choro e agonia
Também o amor pungente.
Vejo o clarear do dia
Como o sol que dá calor
Ele esquenta a noite fria
E nos dá nosso labor
Dá momentos de alegria
E, também, de dissabor.
Vejo a luz do dia a dia
Como oferta de amor
Toda hora ela irradia
Sua oferta de calor
Escondendo a agonia
Que acompanha o sofredor.
Assim como eu vejo a luz
Também vejo o sentimento
Da fortuna que seduz
E provoca sofrimento
É a fera que produz
O seu próprio isolamento.
Veja a paz itinerante
No viver da mocidade
Ouço a voz intolerante
Do agente da maldade
Vejo a mão recalcitrante
De quem nega caridade.
No cantar do cisne eu vejo
Uma prova irrefutável
De um mundo que almejo
Mas que não foi encontrado
Apesar de ser desejo
É, ainda, ignorado.
Nesse cantar há mistério
Que ninguém mais revelou
É sinal de cemitério
Para aquele que cantou
E ao seu próprio critério
Mostra que se preparou.
Cisne tem na companheira
Sua eterna namorada
Vivem juntos a vida inteira
Até a hora marcada
Não existe choradeira
Quando a vida é acabada.
O som da sua cantiga
Um pouco desagradável
Não é motivo de briga
E tampouco deplorável
Não é causa de intriga
E, tampouco, detestável.
No momento que antecede
A partida pro além
O cisne que nada pede
Prova que ganhou também
Algo que só Deus concede
Para quem pratica o bem.
No momento de partir
Ele dá à companheira
Liberdade pra seguir
Viver à sua maneira
Ninguém vai imiscuir
Na proposta derradeira.
Depois de finda a partida
O lago volta ao normal
A vida é restituída
Para algum outro animal
Que aguarda a despedida
Pra sair do lamaçal.
Assim a vida aparece
Pra viver novo momento
Há alguém que compadece
E que serve de instrumento
De um ser que desconhece
O seu próprio crescimento.
Eis aí o cisne cantor
Que encantou a madrugada
Ganhou um preceptor
Pra seguir a caminhada
Encontrou um novo amor
Pra formar nova morada.
Vai poder cantar enfim
Onde a paz o reconheça
Não terá principio ou fim
Ou alguém que permaneça
Sobre as flores do jardim
Pra que o amor aconteça.