Finge o poeta o que sente.
Finge o poeta o que sente
Mote
Finge o poeta o que sente
Sente o poeta o que finge.
Voltas
Ao fingir a dor que sente
Duplica as dores vividas
Dói a real e a fingida.
Doem intensa e igualmente
A do coração e a da mente.
E o poeta não restringe
As dores que a si impinge
Ele as vive plenamente.
Finge o poeta o que sente
Sente o poeta o que finge.
Em seus versos diz Pessoa
Que outra é a dor do leitor.
O que leva a pressupor
Que não são as dores que entoa.
Mas não é um sentir à toa
É a ausência que o atinge.
No peito do leitor tinge
A cor de um sentir ausente.
Finge o poeta o que sente
Sente o poeta o que finge.