O que vai ao peito
Andei pensando em ser bom
Em analisar o conceito
Do que é fazer direito
Sempre calibrar o tom
Andar fazendo empatias
Abafar o egoísmo
Distribuir simpatia
Irradiar otimismo
Em reunir minhas forças
Num supremo sacrifício
Considerar que são poucas
As bobagens que me irritam
Sério mesmo! ...eu andei!
Progredi nessa empreitada
Tanto que desconfiei
Se não foi exagerada
Saio comparando as minhas
Com as decisões dos outros
Questionando os fundamentos
Contextos fundos e topos
É que isso de ser bom
Na acepção da palavra
Literal e de bom tom
Pode ser uma roubada
Depende das circunstâncias
De com quem se está lidando
Porque lá do outro lado
Podem estar se aproveitando
E aí se configura
O antagonismo injusto
Dez passos atrás na postura
Se a gente não fica puto
Bem, é isso que acontece
Sem fazer apologia
De vingança a quem padece
E ser bom virar utopia
Na verdade, a bondade
De despojo concreto é fácil
Difícil é a da convivência
A doação que não é tátil
De a gente ficar calado
Na hora de estourar
Sem pensar se está errado
De não raciocinar
De seguir os raciocínios
Nada ser estapafúrdio
Ter botões do autodomínio
Com furos pros parafusos
Pagar micos nos enganos
Sem complexo de trouxa
Desviar-se dos tiranos
Que só sabem usar a força
Entre as mil alternativas
Está a da persuasão
Como quem vive e precisa
Discutir a relação
Haja desgastes na vida
Quando se escolhe esse jeito
Talvez não seja escolhida
Seja o que vai ao peito