ANTES E DEPOIS.

Antes que venha a lua

E eu minguante esteja

Eu vou sair pelas ruas

Oferecendo em bandeja

Um verso qualquer quebrado

Moído, ralo inspirado

Rimado em porta de igreja.

Antes que a amiga mão

Me bata a porta atrevida

Eu abrirei os ferrolhos

Do portal da avenida

E tocarei no cortejo

Com as cordas do meu desejo

Os repentes da minha vida.

Antes que a onça faminta

Me tire o couro pintado

Vou beber água do céu

No chafariz encantado

Vou pintar da cor de sangue

Todo rebento do mangue

Pela lama batizado.

Antes que tu querida

Me beije de furta-cor

Eu me vestirei de couro

Castanho, cheiro e sabor

Tu minha santa um colosso

Eu teu beato mais moço

Rezando reza de amor.

Antes que venha o inverno

E o alagado plangente

Vou tanger minhas amarras

Por cima da terra quente

Se secarem por inteira

Cobrirei com a poeira

Do vento da minha mente.

Antes que venha o nada

Eu vou fazer de tudo

Para que nada aconteça

No mais lógico absurdo

Sem senso ou explicação

No caos da assombração

Meu punho é meu escudo.

Antes que em teu rosto veja

O meu sorriso se abrir

Afiarei os meus sonhos

No bico de um colibri

E voarei sem esforço

Pra dentro do calabouço

No fundo do meu existir.

Antes que a ilusão me traia

Essa mentirosa bandida

Vou na cacunda da paz

Pra longe dessa atrevida

Como um monarca da sorte

Antes que me morda a morte

Eu engolirei a vida.

Ebenézer Lopes
Enviado por Ebenézer Lopes em 28/08/2015
Código do texto: T5362886
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