O PRESENTE DA SERPENTE

01 Uma ninhada de víboras

Encontrei num matagal

Tinha cinquenta e seis cobrinhas

Num movimento anormal

Demonstrando que a vida

E vista nas remexidas

De qualquer corpo animal

02 Ignorei o achado

Por ter certo sentimento

Que tudo que aqui tem vida

É por que Deus dá o sustento

Por que então eu tinha

Que matar aquelas cobrinhas

Que por Deus teve nascimento

03 Os anos foram correndo

E o mundo sempre rolando

Depois de uns quatro ou cinco

Outra vez eu fui passando

E meio à capoeira

Ondes as cobrinhas nasceram

Daquilo fui recordando

03 Por ser um lugar sombrio

Cheio de árvores e tranqueiras

Eu me senti receoso

De parar naquelas eiras

Assim apressei meu passo

Pra sair daquele espaço

Contendo cobras nas beiras

05 Mas quando eu acabava

Da mata atravessar

Vi uma enorme serpente

O meu caminho a cercar

Meu corpo se arrepiou

O medo ali me tomou

A ponto de me paralisar

06 Talvez pelo grande espanto

Tive ali uma audição

Pois a cobra me falou

Tendo voz de gratidão

“-Eu sou a mãe das cobrinhas

Que você viu quando vinha

Buscar lenha pro fogão

07 Não temas, eu te conheço

Jamais de ti me esqueci

Pois perto de minhas filhas

Naquele dia eu te vi

Tive medo de morrer

Por isto fui me esconder

Mas você partiu dali

08 Deixaste minhas filhinhas

Nem uma delas matou

Aquele seu procedimento

A minha vida marcou

Por isto ao ter ver aqui

Muito feliz me senti

Minha saudade aplacou”

<>

09 Confesso que ali fiquei

Completamente pasmado

Mesmo por que eu ganhei

Da cobra um presente achado

Uma pulseira de ouro

Que era dela um tesouro

Que pra mim tinha guardado!

10 Por isto tenho razões

Para nunca matar ninguém

Seja gente ou animais

Que em caminho tem

Pois eu penso que a vida

Deve ter sempre a guarida

De quem quer viver também!