VÃO MATAR O VELHO CHICO PARA REGAR O SERTÃO!
Água é um elemento
Que tem o olho na terra
Jorra em grandes cascatas
Escorrega pelas serras
Corre em leitos de rios
Num ciclo que nunca encerra.
Vai traçando seu caminho
Atraindo multidões
O povo às margens d’água
Cria civilizações
Nilos Tigres e Eufrates
Senas Tejos e Jordões.
No lado de cá do mundo
O Brasil se posiciona
E possui o maior rio
Que se chama Amazonas
E o homem civilizado
Criou por lá uma Zona.
No coração do país
Corre um rio importante
Chamado de São Francisco
Por causa do santo amante
Dos animais e das plantas
Bondade santificante.
Esse rio integra povos
De quase toda a Nação
Sai lá de Minas Gerais
Da Bahia é o coração
Em Pernambuco, Alagoas
E Sergipe tem vazão.
Por ser muito generoso
Esse rio é muito amado
Tem a fartura do peixe
E apesar de assoreado
Serve pra navegação
E irrigação dos dois lados.
O povo das suas margens
O chama de Velho Chico
Em um gesto carinhoso
Quase como um fuxico
Íntimo e familiar
De quem é caro e rico.
O Chico as vezes enche
E derruba as moradas
Dos que ficaram bem perto
Sem ter casa recuada
Acaba com plantações
Leva tudo na enxurrada.
Dona Pequena é baixinha
Por isso tem esse nome
Mora lá em Juazeiro
Ninguém no mundo a embrome
Quando ela fica nervosa
Dá surra até em dez homens.
Ela soube dessa história
Da tal da Transposição
Que farão no Velho Chico
Para regar o Sertão
Repartindo ele em pedaços
Como quem reparte um pão.
Ela disse: -Ninguém faz
Operação no meu Chico!
Cuido dele direitinho
Desde quando era Francisco,
N’é hoje depois de velha
Que vão vim meter o bico.
Como pode um Governo
Dizer que veio pra todos
Quer descobrir nosso Santo
E nos deixar a ver lodo
Para ir cobrir um outro
Criando o maior engodo.
O Chico anda largado
Está sendo poluído
Por esgoto e lixo tóxico
Precisa ser protegido
Recuperar suas matas
Para ficar mais garrido.
Mas o que o Governo quer
É destruir ainda mais
Fazer jogada política
É tudo que lhe apraz
Pôs na frente contra o povo
O Ministro Satanás.
Me perdoem os irmãos
Vizinhos cá do Nordeste
Pra quem a transposição
Vai pro Norte e vai pro Leste
Se isso um dia ocorrer
Vai causar um mal da peste.
Paraibanos, Cearenses
E Potiguares também
Serão beneficiados
E ao Governo dizem amém
Que do seu lado afirma
Que irá fazer um bem.
Um bem que só servirá
Para a própria promoção
O impacto ambiental
Não causa preocupação
Com essa conversa mole
Ninguém me enrola não.
Veio o Comitê da Água
Para democratizar
Mas não respeitaram o voto
Dos que foram lá votar
Contra a transposição
Que fará o rio secar.
O Chefão quer saber mais
Do que o povo que lá vive
Às margens do Velho Chico
E que dele sobrevive
Se acha o sabichão
E poderoso inclusive.
Atropela decisões
Com Decreto Executivo
Convidando empreiteiras
Para dar um incentivo
Na aprovação da obra
Fazendo uns donativos.
Um Ministro da Bahia
O bom Bispo enrolou
Passou a bola pra outro
Que pouco lá demorou
Representam o Governo
Limpam o que ele cagou.
Transpor as águas do rio
Pra irrigar é enrolação
Vão plantar cana para Bush
Frutas pra Europa e o Japão
Só não vão matar a sede
De quem sofre no Sertão.
A mãe Natureza sabe
O que faz com seus nascidos
Se nos trouxe a esse mundo
De homens entorpecidos
Pelo poder e o dinheiro
É por termos merecido.
Talvez seja fatalista
Essa minha opinião
Parafraseando Ruy
Haverá um tempo então
Em que o homem sentirá
Orgulho de ser ladrão.
Jotacê Freitas – Salvador - Bahia
1ª Edição: 01/05 – 2ª Edição: 04/07
3ª Edição 07/15
Recordar é viver 2. Tínhamos medo do Velho Chico secar com a transposição, mas está secando antes mesmo dela. Lá se vão 10 anos de águas sob as pontes...