A BRIGA DE MEIA NOITE COM LAMPIÃO

Desde que eu comecei

A escrever sobre o cançaço

Tenho me impressionado

Com tamanho estardalhaço

Envolvendo cangaceiro

No Nordeste Brasileiro

Que findou sempre em fracasso.

De vaqueiro bom no laço

A jagunço bom de tiro

O reduto da caatinga

Era sempre um bom retiro

Com coronéis e coiteiros

Mas são sempre os cangaceiros

Que no verso eu me refiro.

Se tem cangaço eu me viro

Para escrever suas histórias

A origem dos bandoleiros

Se derrotas, se vitórias

Vou contando um por um

Sempre num lugar comum

Entre atropelos e glórias.

Eu já contei a história

De um caso no sertão

Com Adolfo Meia Noite

Que entrou em confusão

Com filha de fazendeiro

E terminou cangaceiro

Por sua desilusão.

Bem antes de Lampião

Esse fato aconteceu

Essa história é mais recente

Porém mais velha eu,

Meia Noite outro bandido

Por Lampião protegido

E eu conto como se deu.

Tudo isso aconteceu

No sertão paraibano

Onde o pessoal vivia

Num regime sub humano

Violento e infeliz

Tempo que Otávio Mariz

Era um coronel tirano.

Já falei do desengano

Contado em dois cordéis

Da vez que Chico Pereira

Sofreu um grande revés

Vendo o pai assassinado

E ele marginalizado

Por políticos infiéis.

Pra enfrentar esse revés

Chico forma um batalhão

E ainda pede reforço

Ao bando de Lampião

Que se encontrava ferido

Por isso estava escondido

Em uma área do sertão.

Em ajuda Lampião

Manda o seu irmão Levino

Junto com Ezequiel

E um grupo em desatino

Destemida cabroeira

A ajudar Chico Pereira

No sertão dinossaurino.

Cumprindo o fatal destino

O troço saiu perfeito

O bando de Lampião

Levava tudo no eito

Foi tão grande a quebradeira

Que até Chico Pereira

Se assustou com o efeito.

E depois do contrafeito

Era hora de sair

Cerca de oitenta homens

Trataram de escapulir

E também Chico Pereira

Com a sua cabroeira

Se evadiram dalí.

Dos que estiveram alí

No ataque do sertão

A fina flor do cangaço

Do bando de Lampião,

Ezequiel e Levino

Zé Cachoeira, Sabino

Lua Branca e Barandão.

O Meia Noite em questão

Neste cordel relatado

Não é o que eu relatei

Em outro verso passado,

Antônio Augusto Feitosa

É a razão dessa prosa

Neste folheto rimado.

Tendo o fato consumado

Se evadiram do sertão

Para o Saco dos Caçulas

Onde estava Lampião

Convalescendo escondido

Sendo muito protegido

De tudo na região.

Retornando da missão

Pernoitaram nos caminhos

Perto da Fazenda Bruscas

No mato entre os espinhos

Mas sem movimentação

Pra não chamar a atenção

Dos outros sítios vizinhos.

Um cangaceiro sozinho

Aproveitando o revés

Chegou-se no Meia Noite

Isso na ponta dos pés

Sua capanga abriria

Surrupiando a quantia

De nove contos de réis.

Quando o Sol meteu os pés

E o dia anunciou

Ao começar a viagem

Meia Noite então notou

Que havia sido roubado,

O quiprocó foi formado

Daí o tempo fechou.

Meia Noite acusou

Um irmão de Lampião

De ter roubado o dinheiro

O chamando de ladrão

Já foi partindo pra briga

Daí formou-se a in triga

E aumentou a confusão.

Chegando então no grotão

Aonde estava escondido

Lampião convalescente

Com mais alguns protegidos

Sabendo da confusão

Tentou uma solução

De modo mais comedido.

Estava mesmo decidido

A tudo aquilo acabar

Ele mesmo prometeu

Os nove contos pagar

Porém impôs condições,

As armas e munições

O outro tinha que pagar.

Meia noite ao repensar

Aquela situação

Disse: «Eu entrego a arma

E caio morto no chão

Perco o dinheiro e a vida.»

E de forma decidida

Apontou pra Lampião.

Dizendo, «Entrego não,

Seu bando de infiéis!

Se eu entregar minhas armas

Cairei morto aos seus pés.

Já chega de tre-le-lê,

Acho bom me devolver

Meus nove contos de réis.»

Já pensando no revés

Lampião à sua maneira

Pensou, se ele atira em mim

Vai virar uma peneira

Mas eu também vou morrer.

É melhor obedecer

Para não fazer besteira.

Disse: «Deixe de bobeira

Vire essa arma pra lá,

Se tu atirar em mim

Meu bando vai te linchar.»

O outro disse: «Não relevo

Pois pro inferno eu te levo

Comigo no calcanhar!»

Lampião resolve pagar

Para acabar o desmando

Sabia que Meia Noite

Não estaria blefando

E pra que todos ouvissem

Mandou que o negro saísse

Deixasse de vez o bando.

O negro foi se esquivando

Sempre com a arma apontada

Para o chefe do cangaço

Que ordenou à cambada

Não fazer nenhuma ação

Que o outro tinha razão

E sempre foi camarada.

Com a causa solucionada

Meia Noite endiabrado

Deixa o Saco dos Caçulas

Aonde estava arranchado

E segue outra direção

Mas na mesma região

Da Serra do Pau Ferrado.

O negro escolheu errado

Ficar nessa região

Devido o ataque a Souxa

Houve uma aglomeração

Polícia em todo lugar

Todos querendo pegar

O bando de Lampião.

Mas do negro a decisão

É que em meio a ziguezira

Lá no Saco dos Caçulas

Tinha o Sítio Tataíra

E a filha de um sitiante

Que era a sua amante

E se chamava Zulmira.

Lá do Sítio Tataíra

Ele nunca mais saiu

Mas essa história é bem longa

E muito ele resistiu

Até entregar os pontos,

Mas noutro cordel eu conto

Como ele sucumbiu.

Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 12/07/2015
Reeditado em 14/07/2015
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