A PICADURA DO MOSQUITO!

Do jeito que o mundo anda

Não sei mais o que fazer

É miséria e mais miséria

Seqüestro e dossiê

Que de uns tempos pra cá

Não ligo mais a TV.

Os bandidos tão mandando

Na polícia militar

O partido da esquerda

Com a direita vai juntar

O petróleo abaixa o preço

Pra gasolina aumentar.

Na cerveja eu pago dois

E já custou um real

Frango peixe e carne fresca

Estão me fazendo mal

E com a queda da safra

Não como nem vegetal.

Eu acho periclitante

A situação que vivo

Não digo coisa pior

Por falta de adjetivo

Se não fosse a gastrite

Tomava um aperitivo.

O que me assombra agora

É ver o povo falar

No mosquito que se alastra

Que ‘tá por aí a voar

Pousando de bunda em bunda

Pra todos contaminar.

Minha patroa gostosa

Chegou dengosa pra mim

Eu parti pra cima dela

Ela achou muito ruim

Me disse que tinha dengue

‘Tava com a vida no fim.

A dengue é uma doença

Que um mosquitinho choca

Põe os ovos em vasos d’água

Local onde faz a toca

Sai picando as pessoas

Igualzinho a muriçoca.

Não entendi essa história

Como pode acontecer

Um mosquito pequenino

Nos fazendo adoecer

Ficar de cama e com febre

Sangrar e desfalecer?

Esta é a pura verdade

Pelas pirâmides do Egito

É chamado de Aedes

Um pequenino mosquito

Mas que traz na picadura

Um vírus muito maldito.

Parecendo a maldição

Da múmia do faraó

Quem a picadura leva

Sofre o maior quiprocó

Dói os olhos e a pele arde

Você vê e sente dó.

Minha esposa por exemplo

Suava igual cuscuzeiro

A cabeça latejava

Doendo o dia inteiro

O corpo tava moído

Os olhos um fogareiro.

Levei ela pro hospital

E aguardamos na fila

Tinha mais de cem pessoas

Com o mal que aniquila

Toda essa epidemia

Deixa a nação intranqüila.

Quando o médico chegou

Quis saber o que ocorria

Com tanta gente dengosa

Sofrendo hemorragia

Com sintomas da ressaca

Do carnaval da Bahia.

Dona Graça e seu marido

Resolveram viajar

Descansar do dia-a-dia

A cabeça arejar

Voltaram os dois dengosos

Torcidos como acaçá.

Uma colega da escola

Com um cajado na mão

Para não perder a aula

Nem faltar à reunião

Chegou suando e tremendo

Como quem dança baião.

No trabalho um colega

Não sabia dessa praga

Estava na Groelândia

Se assombrou com a chaga

Tomou uma picadura

Hoje quando fala caga.

Um irmão dos sete dias

Diz que não é pecador

Não pode ver mulher nua

Em respeito ao salvador

Ao tomar a picadura

Não sentiu nenhuma dor.

Pior foi o artista plástico

De olho verde gostoso

Recebeu a picadura

E ficou muito nervoso

Deu um chute na parede

Está com o dedo leproso.

Até minha professora

Uma galega canária

Mora perto do zoológico

Onde o inseto se espalha

‘Tá de cama a uma semana

Sem poder dar uma aula.

O doutor se assombrou

E falou sem acreditar

Que a dengue ‘tá controlada

Não vai mais nos atacar

O governo afirmou:

Conseguimos controlar!

Mas a verdade é outra

O mosquito apavora

Sobrevive em poça d’água

Sai voando a qualquer hora

Como uma praga alada

E que a todos devora.

Nós estamos precisando

Limpar lajes e quintais

Não deixar pneus com água

Nem vasilhas de animais

Os esgotos e lagoas

Cabem aos governamentais.

Se tudo isso fizermos

E o mosquito insistir

Só existe um remédio

É deste país fugir

‘Tou falando na moral

Sem a ninguém denegrir.

É muito dinheiro público

Se transformando em propina

Fica a saúde do povo

Numa espécie de ruína

O presidente merece

Chá de nitroglicerina.

Jotacê Freitas

Salvador, 21 de fevereiro de 2002.

2ª Edição – Abril de 2008.

3ª Edição – Julho 2015.

Recordar é viver! Antes apenas a dengue nos assustava, agora o mesmo mosquito transmite mais três males: zica, chikungunya e síndrome de guillain-barré. Haja sangue!