CUMADRE CHIQUETOSA
Eu quero espaiá proceis
Um causo de impressioná
Algo que ouvi só contá!
Duma dona cumadre chiquê
Que morava pras bandas de lá
Bem longe donde um cordel
Daqui pudesse alcançá!
Pra mode também eu pudê
Um poco desabafá
Os causos desse mundão
Difícil de administrá!
Cumadre foi menina bunita!
Nascida de famia sofrida
Das bandas dum interiorão
Brincava nas carçadas da vila
Em meio a terra vermeia
Com os pé descarço no chão
Cascudos quar o tempo bem duro
Da vida que corria então.
Escalava a tar goiabeira
Que a toda criança faceira
Sabia seu fruto ofertá;
Tão logo o poente se ia
A vó que a criava quar fia!
Chamava pra o banho tomá
E daquele fogão que ardia
A chama da lenha subia...
Pra mode sua sopa esquentá,
Assim que o sino batia
O trem apitava na linha
Se punha a Ave -Maria rezá.
Rezava com fé de menina
Até que a vó certo dia
Se foi para com Deus morá,
A famia que já era pequena
Lutou com uma força ferrenha
Pra mode a pudê sustentá.
Cresceu a pupila formosa
Com porte de muié viçosa
Prontinha para se casá!
Casou-se com festança de nobre...
Com um homem de fino porte
Que fez seu destino mudá.
A vida era quem decidia:
Beijou a mão da famia
E se foi...
prá mode não mais voltar.
Virou então chiquetosa!
Com fama de gente famosa
Dessas de saí nos jornár!
E na sua cidadezinha
Dela ninguém mais sabia...
A não ser pelas fofocas de lá.
A moça de gosto refinado
Vivia de jóia e brocado
Pra mode o passado escondê!
Fazia nem um recado
Nos dias em que os fruto, ao passado,
Se lembra de agradecê.
O tempo passava apressado
E agora estava contado...
Pras mãos que a ajudaram a crescê.
Cumadre, das mais chiquetosa!
Fazia apenas a prosa
Do que não queria fazer.
O sino já soava bem triste
Com dedo no tempo, em riste
Na mão que lhe deu de comê.
Morria a mão tão querida
De dura labuta sofrida
Pra mode ela pudesse vencê!
Cumadre toda chiquetosa
No féretro, nem de véu, nem grinalda
Pois alí não pudia cabê.
Mas não descuidou da imagem:
Chamou toda a camaradagem
Para a maquiagem fazê.
O triste lhe era só passarela
Cumadre quar uma Cinderela
Queria só aparecê...
Na hora da divisão dos custos
Do tudo tão caro dos lutos!
Sequer se pôs a mercê!
se justificava a contento
Contando aos quatro ventos...
Que vinha de famia pobre
Sofrida de toda má sorte
Que nem tinha o que comê!
Eu quero versejá praocêis
Com susto de arrepiá
Que o que os óio nâo vê
Um Cordel pode decifrá
Até os coração da cumadres
chiquê, mas de fazê nóis chorá...
Na hora de pegá as heranças...
Algumas só bugigangas
Cumadre montou prontidão:
Abriu foi os dois zóião!
Mas antes de as coisa pegá,
Não quis nem as custas pagá.
Diante de toda nobreza
Foi até as realezas
E se pôs à Justiça chorá,
Cumadre das mais chiquetosas
Conhecida como gente famosa
Com nada pudia arcá...
Nem um tostão dos suados!
Vindo ao tempo já malogrado
À sorte que lhe ajudô a criá...
E que nem estava mais lá...
Pra mode se lamentá!
E na mais fina chiqueteza
Ganhou atestado de pubreza:
Deixou de as contas pagá...
Mas a herança ela foi pleiteá!
Nesse cordel arretado
Termino como o pensamento assustado
Em firme constatação:
A ter uma forte certeza
Que há uma triste pubreza
Que nem com toda realeza
Sequer se consegue curá!
Só se pode atestar que doença
Que mata a qualquer querência
Se vai nem em cinzas virá!
Em meio à chiqueteza de "nobres"
Que toda terra carcome...
"Espírito cada vez mais pobre"...
É só o que a gente pode atestá!