RECORDAçÔES

No meu tempo de infância

ouvia meu pai falar

de quando era criança

não soube o que foi brincar

não estudou ,não aprendeu ler

só trabalho e apanhar

Seu pai meu finado avô

o qual não cheguei a conhecer

era cabra rude e brabo

só lhe dava o de comer

porque carinho e estudo

só para os outros filhos

ele o viu fazer

Com oito anos de idade

nos anos vinte e por aí

as casas eram muito distantes

no interior do Quixadá

o que ele precisasse

em qualquer hora ou lugar

obrigava meu pai a ir

senão quisesse, peia levar

Uma noite de sexta-feira

com lágrimas nos olhos relatava

as sete horas da noite

tudo escuro

só mata nem a lua clareava

o mandou dar um recado

do outro lado do mato

que nem homem já formado

naquela hora se arriscava

Ele obediente e também acuado

foi correndo sem reclamar

dar o maldito recado

minha avó ficou

rezando pra ele vivo voltar..

porque enquanto ele corria

nas veredas e coxias

do outro lado ouvia

algo correndo

com ele empareado

ao chegar no local determinado

o dono da casa perguntou

porque seu pai é tão malvado?

porque não esperou amanhecer o dia?

lhe mandar uma horas dessas

sabendo que tem uma onça

solta por esses lados

Nesse instante ele entendeu

quem o tempo todo o acompanhou

nessa hora deu medo e indignação

o coraçãozinho disparou

mas deu seu recado e voltou

na disparada com o seu coração

chorando e com todos os santos se apegando

em profunda oração

pelo mesmo caminho retomou

porque não tinha outra opção

ou voltava ou apanhava

lembrou que o pai

havia cuspido no chão

Lenice Ferreira
Enviado por Lenice Ferreira em 05/06/2015
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