Saudade da Vaquejada
SAUDADE DA VAQUEJADA
Autor: José Rodrigues Filho
Saudade é palavra triste,
Assim falava a canção,
Mas tristeza não carrego
Dentro do meu coração;
Porque na minha Saudade
Não existe a solidão.
Sentir a falta de alguém
Ou de outras coisas do povo;
Lembrar de como foi bom
O tempo em que era novo.
Saudade é literalmente
Vontade de ver de novo.
Em muitas línguas faladas
Não se define Saudade,
Nem no francês ou inglês,
Isso é uma realidade,
Pois somente o português
Expressa essa raridade.
A Saudade sempre chega
Quando só nos encontramos,
Pois com gente à nossa volta,
Poucas vezes, concentramos
O foco em coisas passadas,
Recentes, ou de muitos anos.
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Rever o que bem vivemos
É sinônimo de Saudade;
Já, reviver desenganos
Possui mais afinidade
Com o termo melancolia
Que é tristeza de verdade.
Portanto, a melancolia
É a tristeza da alma
Que chega ao entardecer
Quando a luz do sol se acalma
E o canto da Ave-Maria,
Dolente, a mãe de Deus salva.
É nessa tristonha hora
Que impera a melancolia.
Chora-se a morte de Cristo
Com pesar, sem nostalgia,
Pensamos em nossa morte
Ao chegar o fim do dia.
Assim, falou um poeta,
Cordelista do repente,
Depois de citar agruras
Que avistamos no poente
Que o fim do dia parece
O fim da vida da gente.
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Veja leitor, que tristeza
Tem nessa estrofe embutida.
Comparar o fim do dia
Com o fim de nossa vida!
É que o poeta carrega
Melancolia incontida.
Saudade da apartação
Do gado, da vaquejada.
De correr atrás do boi
Na caatinga ou na “varzeada”.
De ganhar lenço de moça
Em toda curva de estrada.
De cavalgar aboiando,
Tangendo grandes boiadas,
Pelos sertões do Nordeste
Aquietando manadas,
Tanto no final do dia
Quanto pelas madrugadas.
Saudade do violão
Como também da viola.
De vestir o meu gibão
E o meu colete sem gola.
Dançar xaxado e baião
D’ as botas gastarem a sola.
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Tirar dama pra dançar
E fazer pra ela um mote,
E antes do dia raiar
Beijar-lhe a boca e o cangote,
E lhe prometer garupa
Quando voltar lá do Norte.
Isso, sim, é que é Saudade
De fazer tudo de novo.
De escutar o Gonzagão,
O maior cantor do povo,
Lá em Feira de Santana
Chegando de Mundo Novo.
Pra acalmar uma boiada
Não se utiliza “berrante”,
Porque a voz do vaqueiro
Parece um alto-falante,
Chegando junto ao rebanho
E acalmando o ruminante.
O vaqueiro do Nordeste,
Não usa “berrante” não!
Pra aquietar uma boiada
Ele canta uma canção
Que na forma de aboio
Acalma até “barbatão”.
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Entre a mata e a caatinga
Medra uma vegetação
Que especifica o Agreste
Ou zona de transição,
Se presta pra criar gado
Toda e qualquer criação.
Ocorre no Pernambuco,
Forma microrregião,
Caruaru e Bezerros
Estão na jurisdição;
Como também Camocim
Se integra nesse rincão.
Pega S. Joaquim do Monte,
Grande parte de Bonito,
Na serra da Borborema,
Se encontra o bioma dito
Onde nasceu o poeta
Naquele solo bendito.
Para as bandas da Bahia
Tem em Feira de Santana,
A princesa do agreste
Entroncamento bacana,
É o Portal do Sertão
Pra comprar gado tem fama.
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Eu, por acaso, nasci
Nessa região citada:
Microrregião do Brejo,
E no Agreste encravada.
Sou filho de Bananeira
Por Bonito administrada.
Dali eu sinto Saudade
Desde o tempo de criança,
Quando eu sonhava ser
O cavaleiro da esperança...
Levando boi mascarado
Para o abate na “Matança”.
Em Camocim de S. Félix,
Complementei minha infância.
Desejando ser vaqueiro
E exibir com elegância:
Gibão, chapeu e cavalo
Pra vencer qualquer distância.
Esse sonho de menino
Ainda guardo na lembrança,
De correr de rédeas soltas
Pelos campos da bonança.
De rever aquelas terras
Inda tenho confiança.
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Com o tempo tudo mudou,
Assim como meu destino;
Do sonho, que acalentei
Desde o tempo de menino,
Ficou somente o desejo
E esse dom que ora exprimo.
O dom de narrar em versos,
Prosa, canto e poesia.
A história, desses heróis
Do campo e da pradaria,
Que sem o Vate campestre
Ela não se contaria.
Quem foi Raimundo Jacó?
Um vaqueiro assassinado!
Que iniciou a saga
De em missa ser lembrado
Legando pra essa classe
O respeito apropriado.
Foi Serrita, –Pernambuco-
Que fez a primeira missa
Ao vaqueiro dedicada
E com presença maciça,
Transformou aquele evento
Num sucesso com premissa.
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Um pouco de nostalgia
Invadiu-me o pensamento
Ao lembrar, daqueles dias,
Galopando contra o vento,
No meu ginete montado
Varando os degraus do tempo.
O cavalo para mim
É a perfeita montaria.
Foi talhado pra o vaqueiro
Trabalhar no dia a dia,
E é importante pra aquele
Que cursou Agronomia.
Fica, portanto, a Saudade
Do sonho de ser vaqueiro.
Nos meandros do destino
Me formei em Engenheiro
Daí, voltei a montar
Esse nobre companheiro.
Saudade tem sete letras
Algumas vêm repetidas,
Se pudesse reencarnar
Viveria as outras vidas
Como vaqueiro ou Agrônomo
As profissões mais queridas.
Amélia Rodrigues-Ba. 18 a 20 de maio de 2012.
Interação do Poeta Luso Gualberto Marques:
"SÓ DEUS SABE ? SÓ DEUS SABE?
Belo poema com sextilhas,
Doces como silvestre mel.
Canta-nos mil maravilhas,
Com estâncias em cordel.
Fui também na vaquejada,
Pelas terras do Nordeste.
Onde passam muitas boiadas
Das caatingas no Agreste.
Do Brejo e Bananeira.
Alcançam a alegre Bahia,
Vaqueiros trajados à maneira.
Que saudades das correrias
Como Vaqueiro ou Engenheiro
Para reencarnar gostaria.
Agradecemos pela valiosa colaboração
ao Poeta gmarques.
amélia Rodrigues-Ba. 20 de fevereiro de 2019.