RIO DE LÁGRIMAS

RIO DE LÁGRIMAS

Silva Filho

É normal que se tenha um apego

Com a terra que um dia nos criou

Com o rio que um dia nos banhou

Com a casa que nos deu um aconchego.

É assim, uma espécie de chamego

Que cresceu no fulgor daquela mata

Sem que tenha em relevo qualquer data

Mas somente um fator gratificante

QUANDO VOLTO AO MEU MUNDO DE INFANTE

OS MEUS OLHOS SE TRANSFORMAM EM CASCATA.

Quem viveu nas quebradas do Sertão

Certamente desfrutou um bom sossego

Uma vida que não faz pedir arrego

E o trabalho, sempre honesto, não é vão.

Todo mundo tem ali os pés no chão

E a água se transporta numa lata

Quem quer lenha, meu amigo, vai à cata

Mas à noite – lua cheia... deslumbrante

QUANDO VOLTO AO MEU MUNDO DE INFANTE

OS MEUS OLHOS SE TRANSFORMAM EM CASCATA.

No sertão não existe desavença

Porque temos no amigo, um irmão

Cada um só quer mesmo ter o pão

E manter ainda viva sua crença.

Todos sabem que o crime não compensa

Resultando na ausência de bravata

Não se tem o trambiqueiro de gravata

Nem também o Excelência-Meliante

QUANDO VOLTO AO MEU MUNDO DE INFANTE

OS MEUS OLHOS SE TRANSFORMAM EM CASCATA.

Foi assim que vivi a mocidade

Em contato com a água e a relva

Bem distante das agruras desta selva

Que atende pelo nome de ‘cidade’.

De voltar ao meu rincão, tenho vontade

Pra tomar aquele leite com a nata

E a condessa conhecida como ata

Vem a ser aquele fruto dominante

QUANDO VOLTO AO MEU MUNDO DE INFANTE

OS MEUS OLHOS SE TRANSFORMAM EM CASCATA.