Memórias

01

Uma história que começa

numa cidade da mineira,

além da imensa pobreza

havia outras barreiras,

a sorte que eu tive

uma mãe verdadeira,

que lutava dia-a-dia

eu sonhava com carreira.

02

Meu pai, negro forte,

era chapa de caminhão,

ganhava muito pouco

mal dava prá sustentação

ainda tinha que enfrentar

preconceito e humilhação

porque todo chapa

era chamado de ladrão.

03

Morava nos arredores

numa pequena casinha

poucos eram os móveis

e quase nada tinha.

Para assistir televisão

ia na casa da vizinha,

que só nos dava atenção

se tratasse das galinhas.

04

Era um bairro muito pobre

onde pouca gente morava,

o povo rico da cidade

por ali não passava,

mas todos eram unidos

a fraternidade não faltava,

bastava um adoecer

que o amigo ali estava.

05

Eu tinha treze irmãos

que mamãe havia parido,

embora uma dúzia

de doença tinha morrido,

por isso na redondeza

eram todos conhecidos,

muitos compadres e comadres

alguns já tinham até partido.

06

Ir à igreja aos domingos

isto era sagrado,

minha mãe nos carregava

sempre prá todo lado,

minha irmã ia nos braços

no pescoço eu ia sentado,

meu pai não participava

era muito desligado.

07

Aos domingos na catedral

missa do Pe. Geraldo,

ele era muito bravo

porém sempre respeitado,

namorados próximo da igreja

eram todos esculachados.

08

Segunda feira no Santuário

era algo muito sagrado,

mulheres de toda região

deixavam o pátio lotado,

para ouvir o Pe. Colombo

homem simples e respeitado.

09

No mês de Maria

era bonita a procissão,

além de muitos cânticos

não faltava oração,

barraquinhas de comida

que gostoso o canjicão.

10

Quando chegava o fim de ano

era um momento especial,

além das férias escolares

também chegava o natal,

eram presentes simples

a alegria era geral.

11

Minha vó, coitadinha,

num asilo cozinhava,

minha mãe toda corada

pro asilo nos levava,

prá comer um pouco de sopa

que a vovó preparava,

quando chegava a noite

ela vinha e nos levava.

12

Entrei para a escola

vejam só que aflição,

fui estudar numa escola grande

onde só tinha filhos de barão,

minha professora, dona Lucília,

deu-me muita atenção,

por isso tinha por ela

uma grande afeição.

13

Na escola sempre fui

um aluno regular,

não tinha notas altas

mas davam para passar,

minha irmã destacava

pois gostava de estudar,

se faltasse por um dia

era motivo de chorar.

14

Da escola eu não lembro

nome de muita gente,

mas tinha uma linda menina

filha de família descente,

era muito educada

além de muito inteligente,

talvez o primeiro amor,

coisa de pré-adolescente.

15

Também tinha o Marquinhos

que chamávamos de cunhado

suas irmãos eram bonitas

e levava-o prá todo lado,

moças de fino trato

mas não tinham namorados,

filhos de farmacêutico

que era um pai dedicado.

16

Terminei o primário

ia receber um certificado,

prá participar daquele momento

ganhei até sapatos novos,

eram bonitos mas o plástico

me provocava um tormento,

eram tantas bolhas no pé

meu deus que sofrimento.

17

Reunimos na escola

Aguardando aquele momento,

Todos felizes e enfileirados

Esperamos a professora

Que nos conduziria

Para o local indicado.

18

Entrega de certificados

foi realizado na catedral,

os bancos estavam lotados

era um dia muito especial.

Um a um fomos chamados

no altar da catedral,

e assim pude alcançar

o meu passo inicial

Carlos Torrente
Enviado por Carlos Torrente em 05/05/2015
Reeditado em 05/05/2015
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