Turistas em Aracati
E aconteceu um dia
Na cidade Aracati
Uns turistas em família
Com eles me diverti
Se perderam na cidade
E eu sem dificuldade
Vou contar o que senti
Minha cidade é bonita
Té parece uma aquarela
É a terra dos bons ventos
E já foi pintada em tela
Foi terra de charqueada
Tem rua desaprumada
Mas não deixa de ser bela
Temos também belas praias
Que orgulha o Brazuca
Tem o rio Jaguaribe
Que nunca fez pururuca
E o bairro da intriga
Onde tem gente que briga
Que é o bairro da Ifuca.
Toda cidade tem isso
Gente séria e canalha
Tem gente bem serviçal
E quem briga por migalha
Tem gente desocupada
E que gosta de piada
E tem gente que trabalha
Os turistas em família
Sem fazerem nada errado
Vieram por uma rua
Que é cheia de sobrado
Como quem cata cavaco
Cai o carro num buraco
E fica ali quebrado.
É que não temos esgoto
Também não temos ladeira
Temos sim muita história
Coisa séria e brincadeira
E por aqui eu te digo
Já foi terra de apelido
Mas é muito hospitaleira.
Os gringos são ajudados
E você não imagina
Por alguém bem caricata
Que também é citadina
Que vai nos servir de guia
Sem nenhuma anarquia
Eu falo de Catirina.
E ela fala pros gringos
Do nosso grande pendor
Para as artes e as letras
E também para o humor
De Jacques Klein pianista
Adolfo naturalista
Que foi grande escritor
Diz da igreja matriz
Que é muito bem conservada
Tem mais de duzentos anos
E é de branco pintada
Tem altar-mor e tribuna
E por dentro da coluna
Tem até gente enterrada.
Diz de outros monumentos
Cruz das almas-pelorinho
E diz também do museu
E do beco que é vizinho
Que na lenda tem renome
E meia noite se some
Pra quem passa ali sozinho.
Fala que a melhor peixada
Em majorlândia tem graça
Das falésias de Canoa
Onde o belo tá na praça
Em Quixaba: Encenação
De Jesus Cristo a Paixão
Que é com vinho, sem cachaça.
Aracati foi mais rica
Mas tem um povo distinto
Tem carnaval tem quadrilha
Quase nada foi extinto
Tem a artesã rendeira
Tem jangada de madeira
Toalhas de labirinto
Tem bloco de carnaval
Tem gente que dança rumba
Tem festança de igreja
Tem a turma da macumba
Tem regata pelo mar
E gente para brincar
O festejo do boi bumba
“Eu te benzo eu te curo”
É assim nesse rezar
Que começa a rezadeira
Para o mal exorcizar
E a fé faz uma parte
Tudo é engenho e arte
E tudo pode se dar...
E Catirina falava
Com o seu jeito informal
Mas não sei porque motivo
De repente passou mal
Mesmo contra o seu gosto
Foi levada a um posto
Para voltar ao normal
Ela foi bem recebida
Por alguém habilitado
É que sempre há carência
Mas ninguém é enxotado
Se entende o que se sente
Se cuida do paciente
Mesmo com tudo lotado
Nesse posto de saúde
Pode faltar suplemento
Mas não falta enfermeira
Que escuta e dá alento
Esse é o outro lado
Ali não falta cuidado
Mesmo sem medicamento
Mas na saída do posto
Acontece o inusitado
Um usuário de droga
Pede ao grupo um trocado
E meio insatisfeito
Age então de outro jeito:
Todo mundo é assaltado
Pois mesmo com a polícia
E o juiz com sua toga
Naquele bairro modesto
Não se fala em ioga
Mas se vê gente frustrada
Andando fora da estrada
E dependendo da droga
Depois daí os turistas
Vão mudar de itinerário
Passam no Alto da Cheia
E é dúbio o cenário
Há por lá poluição
E alguma evolução
E eu não sou visionário
Chegam enfim a bela praia
Onde tem gente sarada
E aí se vê falésias
E a brodway deslumbrada
Ela é bem nacional
De fama internacional
Viva: Canoa Quebrada!
A arte em Canoa é grande
Pois tem tradição, idade
Lá na vila do Estevão
O povo tem amizade
Berço de Dragão do Mar
Quem vier vai encontrar
Unida comunidade.
Artesanato se faz
Pelas mães e as crianças
E os projetos não param
E são grandes as mudanças
Estão sempre a inovar
E tem jangadas no mar
E um mar verde de esperanças.
As praias de Aracati
Têm as orlas muito belas
Fontainha, Murici
São praias quase donzelas
São nobres por natureza
Tem fartura de beleza
Por isso ser próprio delas
Tem areia colorida
Que encanta o visual
Tem riachinhos restingas
E tem também coqueiral
Tem brisa boa que vem
E tem o “toá” também
Dermato-medicinal
Vou parar o meu cordel
Não quero mais complicar
Eu só sei que Catilina
Me disse sem se espantar
Que aquele povo turista
Se encantou com a própria vista
Resolveu aqui ficar
Minha terra é muito boa
É bela, ensolarada
Não é a toa que gringos
Fazem dela sua morada
O meu lugar eu conheço
E por ele tenho apreço:
Aracati és sagrada!
Agamenon Viana da Silva
Russas, 29 de abril de 2015.