Réquiem da aventura
Fui quase um descamisado
Puro filho do gatilho
Cobaia desesperado
De economistas insanos
De salário apertado
De planos feito estribilhos
Dos confiscos e enganos
Veio a estabilização
Com ajustes escorchantes
Cambio preso ou flutuante
E a cética incerteza à mão
O improvável aflorou
E um sonho confirmou
Outro alguém na direção
Queimar etapas é injusto
Mas, quem é justo conosco?
Vivo o indefinido posto
Sob as garras do leão
Mal pus pra fora o nariz
E essa lâmina meretriz
Solapa minha ascensão
Isso não é amargura
De ex recém-miserável
É um réquiem da aventura
Da saga de aposentado
Que na festa da fartura
Dos cristos da ditadura
Ninguém será perdoado
Mas, quem julga ou julgará?
Serei eu, será você?
Será que alguém vai sobrar?
Será quem leva o piano
Da hoje indignação
Será um daqueles manos
De amanhã no camburão!
E a gente vai pagando
O seguro-eutanásia
A justiça se arrastando
Atrás das provas-fantasma
O fato é que se sabia
Que o tripé da utopia
É político, honra e palavra