Duelo Supremo

Agora, eu vou contar um caso

Que comigo se “asucedeu”

Me alembro bem claro

Do jeito que tudo aconteceu

Coisas do destino, um acaso

Deu um medo da peste neu

Eu andava à noite tranquilamente

Quando vi o céu todo escurecer

Depois ficou claro novamente

E vi um raio lá de riba descer

Um trovão gritou fortemente

Vi um anjo iluminado aparecer

Corri para um mato escondido

E lá fiquei quieto, bem agachado

Pense num medo, fiquei todo tremido

Quase que me mijo e que fico cagado

Quando vi um monstro feio e esquisito

Na frente de um forte anjo, bonito, alado

Cocei os zoios sem querer acreditar

Um anjo de Deus e uma besta do cão

Iam ali, na minha frente se enfrentar

Fiquei quietinho sem fazer barulho não

Orei a Deus com força pra o senhor ajudar

O anjo na luta. Pedi essa intervenção

“Vou te mandar te volta para o inferno”

O anjo disse para a besta fera do cão

“Para tu não há sol, luz, só dor, inverno”

“És uma besta cheia de ódio, sem coração”

“Só não te mato porque és um ser eterno”

“Aqui na terra tu não és bem-vindo não”

O coisa ruim deu uma baita de uma risada

Que me deixou ainda mais apavorado

Disse que o anjo não iria conseguir nada

E ali mesmo ia ser vencido, derrotado

“Vou deixar suas asas todas despedaçadas”

“Seu anjo de meia tigela, fdp, desgraçado”

“Quero dar ao mundo verdadeiro prazer”

“Eu sou o impiedoso, amante da luxuria”

“Não venha no meu caminho se intrometer”

“Quero espalhar a safadeza e a loucura”

“Se quiseres podes tentar me combater”

“Mas sofrerás minha negra, diabólica fúria“

O anjo de uma forma calma e divina

Olhou o demônio, infame e béreu

“Vou falar pra você com muita rima”

“Pode se quiser até anotar num papel”

“Nenhum humano da terra lhe estima”

“Quem vai lhe derrotar sou eu, o anjo Gabriel”

O coisa ruim de medo todo se cagando

Disse: “pronto, agora é que deu o créu”

“Pense como tô todo me amedrontando”

E ao seu lado subiu um baita fogaréu

No fundo, no fundo, ele tava se mijando

Com medo do anjo enviado do céu

Depois de uma longa, esticada conversa

Os dois preparam-se para se enfrentar

Gabriel tinha vontade e bastante pressa

Do capeta queixudo, enxerido, enfrentar

Disse majestosamente: “agora a hora é essa”

“Asmodeu, não vai esquecer da pisa que vou te dar”

Puxou das costas uma longa espada reluzente

E proferiu umas palavras pra lá de bonitas

Era uma língua estranha, difícil, diferente

Devia ser dos anjos, essa língua esquisita

O Gabriel era um anjo cabra macho, valente

E ia vencer a besta demoníaca parasita

Como uma onça, rápido e bastante feroz

O anjo deu o primeiro ataque no capeta

Foi um baita soco potente, divino e veloz

Que eu apelidei de golpe do divino cometa

Atordoado, cambaleou o coisa ruim, atroz

Parecia até ter sido atingido por uma carreta

Mas depois de uns instantes ele se orientou

E prontamente se ergueu, querendo lutar

Com asas negras, então a besta logo voou

Com ferocidade para no anjo um golpe acertar

Mas o anjo esperto, rapidamente se esquivou

E a besta no chão foi com toda se estatelar

O anjo riu muito do estado que a besta ficou

Com a bunda pra cima, querendo se enterrar

Não se contendo, o cunhão da besta ele chutou

Esta, um grito muito alto de dor veio a berrar

Dizem que em todo lugar do sertão se escutou

A surra que o anjo ao capeta veio aplicar

Pense num bicho divino pra lá de garantido

Gabriel mandou o coisa ruim se levantar

Enquanto o capeta ficava todinho ferido

Num conseguia sequer o anjo arranhar

Quem mandou ser a besta todo metido

Agora, uma divina lição estava a levar

O anjo destemido, pelo chifre, o capeta puxou

Sem forças, ele até que tentou reagir

Com a mão, Gabriel, um chifre dele torou

De onde eu estava ouvi o danado se partir

Umas lágrimas dos zoios a besta fera soltou

Fiquei até com pena, mas com vontade de rir

Depois um soco no estômago o anjo deu

Fez o capeta uns quatro metros voar

Pensei ver o capeta rezando para Deus

Tamanho era o medo que tava de apanhar

O céu escuro novamente esclareceu

Sinal que a batalha ia logo terminar

Gabriel disse com suprema honra e altivez

Pra o coisa ruim não perturbar mais não

Falou: “esqueça os humanos de uma vez”

“Se não quiser comigo arrumar confusão”

“Quem sabe não lhe bata mais agora, talvez”

“E deixes tu ires embora ferido, maldito cão”

“Mas antes de deixar-te ir, enfim, embora”

“Levas um presente para o teu patrão”

“Com a espada cortou uma asa da besta fora”

“Que o sangue jorrou pra lá de meio quarteirão”

“Podes ir para os quintos do inferno agora”

Falou isso o anjo com uma baita satisfação

O cão, que no início tinha ódio, ficou mansinho

Botou o rabo entre as pernas e logo sumiu

Deve ter ido chorar com Lúcifer, pedir colinho

Depois da surra divina que o anjo lhe impingiu

Ele nunca mais vai querer andar por aqui sozinho

Com medo de encontrar quem sua asa partiu

Terminada a luta, sua espada o anjo guardou

E voou de novo para o céu como um raio de luz

Até hoje ninguém em mim nunca acreditou

Nessa história que agorinha eu lhe expus

Mas digo que é verdade tudo o que se passou

Juro pelo senhor Jesus Cristo pregado na cruz