SÃO FRANCISCO DE ASSIS- A FACE DO SOBERANO PARTE III
Um certo dia andando51
A cavalo encontrou
Um leproso horripilante
De impulso recuou,
Mas movido pela a graça
Apeiou-se e o beijou.
Daí, ele, se libertou52.
Do mal que o intrigava
Tornou-se com mel
Aquilo que amargava.
Encontrou a resposta
Que ele mais precisava.
E a paz lhe inundava 53
De ternura e abrasamento;
Seu semblante radiava
De muito contentamento
Deixando-o todo bobo,
Amoroso, todo atento.
Foi um lindo momento54
De tamanha imersão.
A máscara que lhe caiava
No seu nobre coração,
Caira feito a neve
Trazendo libertação.
Percebeu sua vocação55
Ao beijar o tal leproso,
Que andava pelas ruas
Muito fétido mal cheiroso.
Sentindo no interior
Um amor majestoso.
Foi por este que o brioso56
Cruzado quis entregar
Todo o seu coração
Sem mesmo pestanejar.
Deleitando suas vontades,
Amizades, bem estar.
Desprezando o seu lar57
Que tanto quisera bem.
Feito um louco apaixonado
Amando no sei a quem,
Perambulava nas ruas
Procurando um alguém.
Era um belo amante sem 58
A sua amada querida.
Parecia até um louco
Na sua loucura varrida,
Procurando assim suprir
Sua razão comprimida.
Nesta busca tão sofrida59
Andando pelas campinas
Deparou-se com uma capela
Que estava em ruínas:
Bancas e chão carcomidos
Paredes bem pequeninas.
Nessas horas interiorinas60
Na capela onde encontrou
Rezou tão devotamente
Onde uma voz lhe falou:
- Repara a minha Igreja
Que a ruína ameaçou.
Era a mesma que cravou61
As cortinas da memória
Quando então procurava
Ascensão e sua glória,
A qual mudou para sempre
O rumo de sua história.
Tornou-se então notória62
Da capela a reparação
Onde Francisco fizera
Com muita dedicação,
Revolucionou sua Assis
E toda a população.
Não concordando então63
Com a atitude estranha
Do seu filho, seu Pietro
Na sua tal artimanha
Quer resolver de vez
Com a desaforada façanha.
Sem dor alguma nem manha, 64
A socos e ponta- pé,
Agarrou o pobrezinho
Sabemos como ele é.
Colocou-o no calabouço
Como um desonrado e ralé.
Mas não lhe faltou a fé,65
Sua estrela tinha brilho.
Corta da mãe o peito
Vendo como um maltrapilho
E na ausência do pai,
Libertou seu doce filho.
Voltando o andarilho66
De seu empreendimento
Encontrou vazio o quarto
No qual prendera o rebento.
Enfurecido recorreu
A justiça no momento.
O magistrado atento67
Ouvira o tal tabaréu,
Atestou a causa grave
E justo o escarcéu.
E antes do veredito
Quisera ouvir o réu.
E intimado o réu68
Para então comparecer,
Ao renomado juízo
A fim de esclarecer
Que acusações eram essas
Contra o seu proceder.
Este lhe mandou dizer69
Que não se comparecia
Ao jus julgamento
Do qual mais não pertencia;
Era soldado de Deus
Só Ele o julgaria.
Dava ares que havia 70
De tudo se desprendido.
E o seu pai arrasado
Vendo seu tudo perdido
Recorreu à Santa Igreja
Da qual era bispo, Guido
Que chama o neoconvertido71
A um esclarecimento;
Pois ele queria saber
Qual seu envolvimento
Nas conversas acusativas
Do homem tão barulhento.
E de repente tão lento72
Surgia na multidão
Um jovem mui estridente
Com tamanha posição
Pronto pra qualquer coisa
Pra qualquer situação.
Começou a reunião73
E nada parecia terno.
O seu pai o acusava
De assaltante interno
Prometendo deserdá-lo
Do seu tesouro paterno.
Ante o olhar materno,74
Do povo expectador
Aos poucos se despia
Do traje profanador,
Colocando-o aos pés
Do seu progenitor.
E dizia com fervor:75
-“até agora eu chamei
De pai a este homem
O qual sempre respeitei
Pois de agora em diante
Somente a Deus chamarei.