CORDELIZANDO NO BUTECO DO RUDRIGO
Cumpadi Pedrim Goltara
E meu cumpadi Airão
Eu só vim pra essa farra
Modi qui ceis são irmão,
Dessa dona do Tesouro
Qui qué dividi cuns dois
A fazenda e muntio ouro,
Cavalos, vacas e bois.
Mais aqui nesse buteco
Só temo feijão cum arroiz.
Cuma eu cheguei na frente
Eu falei com o Rudrigo
Qui hoje vinha muntia gente
Qui era tudo meus amigo.
A lingüiça apimentada
Que a cunhã já foi fritá,
Acumpanha a farofada
Pra modi nóis biliscá,
Mais a cerveja gelada
Pra ninguém se ingasgá.
Eu posso dizê proceis
Qui o meu coraçao palpita,
Pois pela primera veiz
Uma amizade bunita,
Ultrapassou as frontera
Desse Brasil grandioso,
Me deu inté tremedera
Ter amigos valioso,
Num vamo dexá de lado
Esse convivê formoso.
Cumpadi Airão da Bahia,
Amado de sua muié,
Viajô cum alegria
Pra cum nóis tomá café.
Ele me portô de lá
Um livro de poesia
Todo com seu versejá
Falano cum simpatia,
Das mata que tem pur lá
Argumas em agonia.
Mi troxe um litro de mel
Gostoso de se tomá
Coisa que so dá na terra
Onde se aportô Cabrá.
Airão lida lá na roça
Nun cansa de trabaíá
Sustenta vinte dois fio
Pre’ssa terra povoá,
Quano nun tá no roçado
Se põe a iscrivinhá.
O cumpadi da cidade,
Que mora nas bêra-má,
Na maió filicidade
Num qué mais saí de lá.
Pois é lá que ele escuita
O marzão se ondeá.
Vila Véia tá no sangue
Do poeta e contadô,
Que vive a pescá no mangue
Ele já me segredô.
O seu nome é Pedrinho
O cartório se inganô,
Mas já tá bem criscidinho
E careca, sim sinhô.
Inté qui ele é bunitinho
Na foto que ele postô.
Tudo pra ganhá suzinho,
As muié qui conquistô.
Meu cumpadi é Casanova,
Eita homi tentadô.
Mais hoji nesse incontro
Dos estado brasilero,
Nóis viemo pra mostrá
Qui semo bons companheiro.
Nois toma pinga e café
Aqui no bá do Rudrigo,
Hoji cheio de muié,
Por causo dus meus amigo,
Que versejam e dão olé
E num fogem du pirigo.
Nóis só semo cordelista
Qui vevi pra versejá,
Quem quisé entrá na lista
É só si candidatá.
Si quisé trazê viola
Pra modi si acumpanhá
Tem o banjo do Beiçola
Pra o desafio alegrá,
Pipoca na caçarola,
E Ribeiro a zabumbá.
E a fazenda que eu falo
No começo do cordel
Foi o que me vei no estalo
Eu vô tê ela no céu.
Num pudia inganá
Oceis qui são meus amigo
Peço pra mi adiscurpá
E num si azangá cumigo
Foi só pra cordelizá
No buteco do Rudrigo.
É grande a emoção
Tomem nota do qui eu digo,
Nunca vai tê cunfusão
Entre oceis meus bons amigo,
Cada um tome uma purção
Que eu truxe divido,
Desse velho coração
Que sempre teve cumigo,
É sua sua casa, meus irmão,
Nele vocês tem abrigo.
(Hull de La Fuente = Claraluna)