TEMPOS DE CHUMBO

No Paraná de antigamente

Muito ante de ser desbravado

Existia um tipo de gente

Que era de todos tão malvado

Era uma raça de valente

E por isso era muito afamado

Naqueles idos velhos tempos

Que por muitas mortes foi marcado

Outros tantos homens valentes

Sem nenhum escrúpulo dotado

Matavam sem qualquer razão

E por todos eram respeitados

Por qualquer motivo fútil

Eles mesmos assassinavam

A vida pra eles era inútil

E nada eles valorizavam

Desde que tivessem lucros

O resto não se importava

Assim era pra eles aquela vida

Naqueles sertões desertos

Onde era muito dura a lida

E o perigo sempre por perto

Onde almas eram banidas

Onde o crime era muito fértil

Não havia lei e nem ordem

Ninguém conhecia a piedade

Os homens viviam em desordem

Era grande aquela crueldade

Eram como cães que se mordem

Faltava-lhes toda a humildade

Ninguém sabe como isso

Não os levou á extinção

Pois a vida ali era difícil

Ninguém tinha no peito coração

Por que tudo ali se decidia

Com a maldita arma nas mãos

Era uma guerra declarada

Entre grandes e pequenos

A força bruta governava

E o mais fracos sempre sofrendo

O bem, todos ignorava

E todos viviam gemendo

Por muitos anos e anos a fio

Parecia nunca chegar à solução

Em cada senda em cada trilho

Havia sempre um corpo pelo chão

Pois cada dia era mais frio

Aqueles homens sem devoção

A vida era uma verdadeira guerra

Pelas mais variadas razões

Uns se matavam pela terra

Outros por mera diversão

Estes eram como feras

Não tinha nenhuma compaixão

Sem se mencionar alguns

Que eram matadores profissionais

Que sem ter temor algum

Ganhava a vida só para matar

Diziam que isso era comum

Que ninguém devia se preocupar

Tinha o tal Mãos Ligeiras

Que a todos dele corria

Por um punhado de dinheiro

Era só bala que zunia

Era o homem mais certeiro

Que naquelas bandas existia

Quando ele mal chegava

Montado em seu cavalo alazão

Todo mundo se arrepiava

Estremecendo seus corações

Pois cada gole que ele tomava

Era um corpo a mais num caixão

Não havia lei nem tinha nada

Era mesmo o mundo cão

Não tinha hora marcada

Pra dar inicio a uma confusão

A morte era sempre convocada

Dando carona em um velho furgão

Ninguém soube até agora

Por que eles eram daquele jeito

Meus senhores e minhas senhoras

Nada lhes impunha respeito

Era o sistema de outrora

Que os homens achavam direito

Eram povos selvagens sem religião

Sem amor á própria vida

Dentro deles não havia corações

Eram almas nada amigas

Sempre com um parabelo nas mãos

Este era para tudo, a saída

Mãos Ligeiras certo dia

Chegando em um botequinho

Viu um homem que ali havia

Sentado num velho banquinho

De repente o estranho um grito ouvia

Hei você aí, venha cá seu engraçadinho

Nesta hora× Ligeiras então pegou

Um copo cheio de água- ardente

E com tabaco picado misturou

Para bebida ficar mais quente

E ao estranho ele então falou

Este é pra você o meu presente

Beba logo e vai dando o fora

Nem quero ouvir reclamação

É isso mesmo você está me ouvindo

É melhor nem dizer nada não

Se não já vou agindo

Como me manda o meu coração

O estranho humildemente

Pegou o copo e tomou

Para o Mãos Ligeiras sorridente

O visitante logo exclamou

Olha aqui meu oponente

Talvez inda não saiba quem eu sou

Mãos Ligeiras nem deu confiança

Pelas palavras pronunciadas

Pois já estava acostumado

Resolver tudo na pancada

Ainda mais de um estranho

Que ninguém sabia nada

Ele deu uma grande gargalhada

Que igual ninguém nunca ouviu

Olha aqui meu caro camarada

Por que me olhou e ainda sorriu

Pois aqui nestas paradas

Como eu, nunca um homem existiu

Parece que senhor é encrenqueiro

Pois nunca vi ninguém assim

Mas saiba meu caro estrangeiro

E melhor pensar duas vezes em fim

Pois sou um homem canhoteiro

Já nasci sendo um matador e rum

Veja o que o senhor está fazendo

Desacatando-me diante deste povo

Pois fica o senhor sabendo

Que não sou nenhuma casca de ovo

Se o senhor tentar me matar

Eu posso até nascer de novo

Nunca ninguém me desafiou

E conseguiu sair com vida

Não será o senhor o primeiro

A deixar minha alma comprometida

Pois se é assim que o senhor deseja

Então não vejo outra saída

O estranho sem de nada temer

Olhando para toda aquela gente

Meu senhor, eu quero lhe dizer

Que todos aqui são inocentes

E que a bebida que o senhor me traz

É como remédio pra pessoas doentes

Mãos Ligeiras neste momento

Já ficou meio desequilibrado

Pois nunca houve um tempo

Que alguém lhe havia desafiado

Por que cada um certamente

Já tinha seu destino traçado

Mas para o espanto daquela gente

O estranho então se revelou

Venho de um lugar onde somente

Um homem correto sobrou

Pra ver se o senhor realmente

É como de fato alguém me falou

Mas o senhor é um charlatão

Um homem vil, um banal

Mas que sem motivo ou razão

Vive praticando todo o mal

Com esta gente humilde do sertão

Pra quem o senhor é o tal

Eu sou o Duro de Morrer

Dizem que sou até imortal

Agora diante do senhor

Vamos fazer o teste final

Na realidade então vamos saber

Quem de nós dois é mais letal

Traga-me uma bebida aí ,ô do boteco

Mas não demore muito por favor

Não tendo copo traga-me um caneco

Traga também bebidas de cor

Quero mostrar pra este moleco

Quem vai sentir maior dor

Se foi eu que experimentei

Aquela sua dose de pinguinha

Ou se será o senhor valentão

Que agora vai beber da minha

Por que com isso já me acostumei

Mas o senhor já esta fora da linha

Mãos Ligeiras já estava atordoado

Sem saber como ele mesmo agiria

Por que naqueles povoados

A lei era sempre ele que fazia

Agora já estando derrotado

Suas duas mãos moles tremiam

O estranho firme o copo pegou

Com a pinga e também pimenta

Com sua arma tudo misturou

Dizendo lhe; agora é você que senta

Quero que você mesmo me mostra

O que um homem de verdade aguenta

Se o senhor for mesmo tudo isso

Que muita gente tem me falado

Então tomará sem careta e sorrindo

E não sofrerá dano de nada

Mas calma, ainda não terminei

A minha receita de bebida inovada

O senhor que me fez tomar

Sua pinga misturada com tabaco

Pra mim foi como um fortificante

Pois já estava me sentindo meio fraco

Preciso cuidar melhor da vida

Pra não ir mais cedo pro buraco

Meu caro amigo esta mistura

Que o senhor vai beber agora

É a bebida mais pura

Vinda dos tempos de outrora

Era a bebida dos deuses

E que lhe dava grande glória

Mas minha receita ainda

Não está bem preparada

Faltam alguns ingredientes

Pra ficar mais inusitada

Mas pode ficar tranqüilo

Com sua alma sossegada

Pois para este momento

Que tanto tenho aguardado

Não posso deixar um só elemento

Sem ter de ser bem explorado

É uma ocasião especial

Que tudo deve ser bem cuidado

Sei que por aqui não se encontra

O que agora vou precisar

Mas pensando bem este detalhe

Não deixei de me preocupar

É uma pitada especial de veneno

Da mortífera cobra coral

Com uma medida de pólvora

Que sempre tenho guardado

Pra quando chegar nestas horas

Pra eu não ficar apavorado

Vou bater bem esta mistura

Mas não precisa ficar assustado

Misturou todos os ingredientes

Colocou diante do Mãos Ligeiras

Agora chegou a sua vez, valentão

E não me faça nenhuma besteira

Ou você bebe ou eu te mato

Pois minhas mãos são certeiras

Mãos Ligeiras se viu sem saída

Diante de toda aquela gente

Que presenciava aquela briga

Pegou o copo e virou de uma vez

Mostrando ser aquele valentão

Num só gole ele tomou

Toda aquela terrível poção

Dentro de alguns segundos

Seu corpo logo estremeceu

Caindo como uma pedra no Salão

Seu coração já não mais bateu

Todos observavam espantados

Como aquele covarde morreu

O estranho lhe disse então

Meu trabalho aqui terminou

Hoje volto pra minha casa

Minha missão eu já realizei

Cumprindo com minha promessa

Que há muito tempo jurei

Mas antes de eu ir-me embora

Pra todos vocês eu vou contar

Como esta trágica história

Um dia veio a me marcar

Este homem vadio e criminoso

Ao meu pai viera a assassinar

Então mesmo sendo um acriança

Nunca imaginei que um dia

Eu mesmo que nunca matei

Este destino me reservaria

Que fosse eu o vingador

Do chefe de uma grande família

Então me tornei homem formado

Pesquisei todos os fatos possíveis

Qual teria sido a real razão

Pra que alguém o teria matado

Descobri que papai era inocente

Mesmo foi morto e sacrificado

Daquele tempo para frente

Dispus-me a melhor conhecer

Aquele que um dia de repente

Fizera todos nós sofrer

Se este o tivesse se arrependido

Não seria necessário morrer

Mas, eis que logo a covardia

Desta alma veio tomar conta

Pois todos que lhes os via

Para ela era mesmo uma afronta

Mas saiba vocês meus amigos

Que o destino um dia lhes apronta

Este corpo inerte que aqui está

Desde a muito vinha assustando

Todos os lugares por onde passava

Muitas almas, ele ia matando

Assim cresceu o seu orgulho

E ela cada dia era mais tirano

Isso tudo que aqui aconteceu

Jamais eu queria que fosse assim

Não foi preciso atirar nele

E nem ele também atirar em mim

Mas pra cada pessoa neste mundo

Um dia sua vida chega ao fim

E eu não sou nenhum homem mal

Por favor, não fiquem assustados

Isso que todos vocês viram

Não é o meu melhor legado

Porem eu só precisava ter certeza

Pra que nada viesse dar errado

Eu só queria ter bem certeza

Que pra vencer este homem um dia

Eu estivesse toda a firmeza

E que nesta hora eu nem tremia

Pois era a honra de meu pai

Que ale eu defenderia

Este era o velho Mãos Ligeiras

Que sem mesmo esperar

Chegou ao fim de sua carreira

E de sua energia se esgotar

Este pobre homem agora morto

Ninguém mais vai aterrorizar

Daquele período em diante

As pessoas muito se alegraram

Pois os seus terríveis pesadelos

De uma vez pra sempre acabaram

Assim a paz a ordem e a alegria

Naquele sertão bravio moraram

Hoje só restam as velhas histórias

Que os mais velhos sempre contaram

Mas logo ninguém mais se dará conta

De tudo o que eles passaram

Assim estas amargas lembranças

Ficará apenas em seus calendários

Que bom que as coisas mudam

Pois a humanidade tem que evoluir

Mas, infelizmente muitas vezes.

Para isso temos que perseguir

As mudanças dos tempos

E sofrer antes de poder sorrir

Hoje o estado do Paraná é um lugar

De pessoas amáveis e muito gentis

Que dá até gosto de lhes visitar

Elas sabem como lhes fazerem felizes

Vem conhecer de perto esta boa gente

Aqui o amor tem profundas raízes

Charlis
Enviado por Charlis em 23/03/2015
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