O SONETISTA!
O SONETISTA!
Silva Filho
Tentei ser um sonetista
Mas faltou-me persuasão
O soneto tem segredos
Pra quem tem erudição
Inda fiz uns arremedos
Que passaram entre os dedos
Pra sumir na escuridão.
Tentei ser um cordelista
Ninguém fez oposição
O cordel não tem barreira
Na cidade ou no sertão
Como que na gafieira
No cordel se faz fieira
Quando há um bom refrão.
Quando há um bom refrão
Você rima de repente
Chegam versos a granel
Todos eles de presente
Nesse caso, o Menestrel
Junta tudo e faz Cordel
Pois vem outro pela frente.
Se vem outro pela frente
Não se pode recuar
Com sextilha ou com setilha,
O cordel há de rimar
Inda bem que não tem pilha
Não é medido em milha
Nem pede pra descansar.
Do soneto me despeço
Com o cordel vou ficar
Pode ser que a saudade
Venha me fazer sonhar
Como não sou sumidade
Posso ter a humildade
Pra no sonho sonetar.
O soneto é delicado
Tem metáfora, tem enleio,
Tem palavras rebuscadas
Que parecem nome feio
O cordel é uma salada
De bom verso com risada
Sem atalho, sem rodeio.