ADIVINHA QUEM SOU EU?

Do egoísmo sou filho

Pai da desonestidade

Eu sou a própria maldade

Disfarçada em pessoa

A pedra que há no caminho

Carrapicho, sou espinho

E de mim ninguém caçoa

Sou o ladrão mascarado

Engravatado e travestido

Pior que o pior bandido

Meu crime, ninguém condena

Sou Judas e Barrabás

Se brincar sou satanás

E para mim não existe pena

Eu sou o câncer sem cura

Que assola a humanidade

Mentira, sou falsidade

Naturalmente inescrupuloso

Antiético e desonrado

Eu sou o mal incurado

E a gula do guloso

O meu saco não tem fundo

Um cofre é meu coração

Sou a essência do ladrão

A ganância que não tem fim

Eu sou o lixo do lixo

A bicheira que há no bicho

E morro de medo de mim

Sou a carne apodrecida

E a mosca impertinente

Mais que eu, ninguém mente

Faço, mas não cumpro um trato

Sei “surrupiá” como ninguém

Enganar é meu dom também!

Me assemelho mesmo ao rato

Sou um perfeito ator

Lobo em pele de cordeiro

Engano um país inteiro

E ainda saio como honesto

O povo me ovaciona

Cego, me emociona

Até penso que eu presto

Eu sou um ser desonesto

Nefasto e nepotista

Semelhante ao terrorista

Que detona muita gente

Mulher, menino e “home”

Eu mato mais que a fome

Mas de maneira inteligente

Uso o poder em meu favor

Para o meu próprio benefício

Sei usar de mil artifício

Para que o bonde perca a trilho

Mas sei mantê-lo cheinho

De muita gente sou o padrinho

Dizem até que eu brilho

Sei manter o cidadão cego,

Louco, demente e alienado

Ele ainda fica do meu lado

E se preciso, me defendem

Os laços são tão bem feitos

Que não vêm meus defeitos

Se descobrem, não me prendem

E as minhas obras então!

São todas superfaturadas

Refinarias, usinas, estradas...

Tenho o poder de turbilhões.

Não me contento com tralhas

Tampouco com pouco, migalhas

Só sei roubar, desviar bilhões

E o cidadão inocente

Engano com um cartãozinho

Dou apenas um tiquinho

E finjo investir em escola

Mas, se ele está satisfeito

Não vejo nenhum defeito

Nele viver só de esmola

Quando descobrem os rombos

E os roubos que planejei

Claro que, de tudo, eu sei.

Mas finjo ser inocente.

Vem de baixo? Não me atinge.

Ser do bem a gente finge

E todos ficam contente

E, pra final minha saga,

Os otários eu atropelo

Machuco tal qual martelo

Estico a corda bamba.

Já tá tudo dominado!

E sai como combinado:

Acaba em pizza ou samba.

Marcos Aurélio Mendes