MULHER E SEU DIA INTERNACIONAL

I

O ano tem muitos dias,

Numa quantidade exata,

Mas o que aqui importa,

É somente uma data:

Que a mulher, este animal,

Certamente racional,

Não é ouro, mas é prata.

II

Ouro é somente o homem,

Porquanto veio primeiro;

A Eva é só um pedaço

De Adão, quase inteiro,

Que perdeu uma costela

Para ganhar sua bela

E amá-la num canteiro.

III

Seja canteiro ou jardim,

Diferença alguma faz,

A não ser a que existe

Entre a guerra e a paz;

A mulher é desarmada,

Não tem lança ou espada,

Mas da vitória é capaz.

IV

Menina, quando criança,

Recebe a sua boneca

Para fazer o seu mimo,

Por mais que seja sapeca,

Porém o homem menino

Chuta e bate em desatino

Numa bola e na peteca.

V

A mulher na sua infância,

Uma menina com medos,

Ganha nos aniversários

Tão variados brinquedos,

Nunca um revolver, porém,

Que nem de plástico vem

Entrelaçar nos seus dedos.

VI

Homem menino, entretanto,

Ganha lanças e espadas,

Revólveres de espoletas

Para fazer as caçadas,

Esperando nas esquinas

Em brincadeiras traquinas

As meninas assustadas.

VII

Os meninos e as meninas,

As crianças de outrora,

Que pelas ruas brincavam,

São mais que jovens agora,

Homem que seja, ou mulher,

Cada um sabe o que quer,

Errando ao marcar a hora.

VIII

É assim que o machismo

Impera na sociedade,

Pois a mulher colabora,

Dando-lhe autenticidade,

Seu belo corpo vendendo

E alto preço recebendo

Para expor sua beldade.

IX

Entre o homem e a mulher

Há um drama milenar

E cujo entendimento

Requer-se muito estudar;

O início foi na caverna,

Romântica união eterna,

Mas já um conturbado lar.

X

Isso chegou até nós

E que mui bendita seja

A união entre os casais,

Diante do altar da igreja;

Depois da Lua de Mel,

Mistura-se o amargo fel

Num coquetel de bandeja.

XI

Aqui leitor eu encerro

Esta minha preleção,

Pois preciso dar a vez

E a voz ao meu coração,

O assunto suscitado

Poderá ser retomado

Numa outra ocasião.

XII

O que falei parcialmente,

Sirva-se de introdução

Para o arguto estudioso

Que faz a perquirição

Sobre a verdade e o mito,

De tudo quanto foi dito

Sobre o casal Eva e Adão.

XIII

Eu falo agora por mim,

Romântico sonhador,

Busquei até encontrar

A minha sonhada flor,

Quando escolhi a mulher,

Foi pro que der e vier,

Fosse no prazer ou dor.

XIV

A branca rosa aberta

Cravo vermelho enlaçou;

O craveiro e a roseira

Um após outro floreou;

Ficou a relva florida

De jasmim e margarida

Que o calor do sol secou.

XV

O cravo foi definhando

Depois que a rosa murchou,

Nem a chuva fez brotar,

No torrencial que regou,

A roseira e o craveiro,

Murchos ambos no terreiro,

Pois o vento os apartou.

XVI

Voltando agora à Mulher

Ela é uma deusa por certo;

Se eu me encontro sozinho,

Sempre um anjo está perto:

A mulher a me apontar,

Num longo peregrinar,

A montanha ou deserto.

XVII

Depois de abandonado,

Eu me pus a caminhar

Por uma estrada sem rumo

Com o meu anjo a mostrar

O meu novo itinerário

E, no fim do meu calvário,

Eu morri de tanto amar.

XVIII

Muitas mulheres cruzaram

Meu tortuoso caminho,

Beijo dado e recebido

Com tanto amor e carinho,

Por sua vez cada qual

Desabrochou-se, afinal,

Numa rosa com espinho.

XIX

A minha flor perfumosa,

Naquele jardim florido,

Que entre tantas escolhi,

Deixou-me desiludido;

Era a mulher predileta

Pra este infeliz poeta

Que sonhando foi traído.

XX

Poetas sonham demais,

Sonhos tão ousados têm,

Dormindo ou acordado,

Nem sabem escolher bem,

Pois no afã de cada dia,

Quando escrevem poesia,

Vão daqui para o além.

XXI

Sei que fui além demais,

Quando dei meu coração

Para uma falsa mulher

Que cometeu a traição,

Como Judas me beijava

E no jardim me entregava

Ao carrasco de plantão.

XXII

Há pouco tempo sonhei,

Numa noite mal dormida,

Que eu era um macaco

E a minha mulher querida

Já não era mais aquela;

Eu dava um beijo nela,

Recebendo uma mordida.

XXIII

Mulher é uma maravilha

Da cabeça até os pés,

Embora qualquer romance

Possa sofrer um revés

Debaixo do céu de anil,

Amo sempre a mulher mil,

Pra ela eu dou nota dez.

XXIV

À mulher maravilhosa

Uma pergunta eu faço:

Se danço na contra dança,

Como achar meu compasso?

Embora não seja minha,

Você que é mulher rainha,

Receba um beijo e o abraço.

XXV

Existe um jeito, porém,

(Palavras não desperdiço)

De se falar com alguém

Sem que outro saiba disso;

Declaro aqui meu amor

Tão somente a uma flor,

Que é a magia do feitiço.

XXVI

É uma página virada

Daquela que não me quer;

Deu-me sorte quem jamais

Pôde ser minha mulher;

Se não tenho a primeira,

Uma segunda me queira

Para o que der e vier.

XXVII

A esta que eu vou amar,

E enfeita meu caminho,

Com o meu dom de poeta,

Digo com todo carinho:

Doravante até o futuro,

Pelo meu amor eu juro:

Dar-lhe-ei flor sem espinho.

XXVIII

Que toda mulher me julgue,

Se acaso eu for um réu,

Mas dentre todas do mundo,

Por uma eu tiro o chapéu

Dou-lhe agora a despedida,

Não do amor e nem da vida,

Só um adeus e até o céu.

XXIX

Esta mulher é uma santa,

Sofreu ao me dar a luz,

Beijou-me quando cheguei

Para abraçar minha cruz;

Consagrou-me ao batizar

Em Cristo, diante do altar,

Para acompanhar Jesus.

XXX

Admiração por mulher

Eu tenho e jamais renego;

Tive mãe e uma esposa

E quanto as duas eu prego:

Uma só me deu carinho,

Outra a coroa de espinho

Que na cabeça eu carrego.