RETRATO FALADO

RETRATO FALADO

Silva Filho

Eu já vi o Brasil torrar dinheiro

Dando bolsa para qualquer um vivente

Muita grana escorrendo na corrente

Que levava os recursos ao bueiro.

Muito PAC empacado no lajeiro

Uma Copa copulando com bilhões

Zombaria pra quem vive de tostões

Assistindo u’a tal NOVELA MENSALÃO

E o petróleo só jorrava em Mansão

Onde havia muito espaço nos bolsões.

Foi a era do novel clientelismo

Aprovado pelo nobre Parlamento

Dividindo toda a verba do Orçamento

De acordo com as regras do lirismo.

Muitas flores colocadas no abismo

Pra ninguém enxergar a dimensão

Uns tributos passaram por redução

Que alguém já chamou de brincadeira

E assim foi crescendo a bagaceira

Sem que o Povo tenha disso a noção.

O Governo reduziu CONTA DE LUZ

Em momento muito bem apropriado

Logo após, com valor multiplicado

Essa conta um tsunami reproduz.

Certamente essa estória nos seduz

Nem os gregos foram tão inteligentes

Dando a Troia um cavalo de presente

O Brasil dá seu presente na gamela

Pois os burros comem só uma rodela

Mas ninguém quer ser um burro dissidente.

E agora que o país está quebrado

Tome arrocho no preço da gasolina

Nossa luz, que já pouco ilumina

Deixa o bolso muito mais esvaziado.

O salário, como sempre, apertado

Vai levando o brasileiro a ração

Quando muito compra o arroz e o feijão

Sendo a carne um produto extravagante

Que ninguém fique louco num instante

Pois roubar é a mais nobre profissão.

Um país que só fala em Imposto

Sem mostrar a menor contrapartida

Tem pobreza como crônica ferida

Tem miséria da qual não se vê rosto;

Previdência que se paga a contragosto

Tem proventos bem distantes da panela

Correção do Salário é uma novela

Cada aumento anual é u’a garfada

O Poder acha bem melhor que nada

Mais um pouco de arroz em cada goela.

Muito longe anda a justiça social

Pois o povo vive mesmo a exclusão

Os desvios são contados em bilhão

Sugerindo um Imposto Especial;

O Governo diz que a coisa anda mal

E que o jeito é apertura na fivela

Que se troque a energia pela vela

Que se troque o filé pela rabada

Com um jeitinho se mantém a feijoada

E as delícias que ficam dentro dela.