LENDA DO PALÁCIO DAS LÁGRIMAS
Na Ilha de São Luís
Há importantes cenários,
Palco de muitas histórias
E fatos extraordinários,
Desses que o povo comenta
E um ponto sempre aumenta
Nas páginas do imaginário.
Uma das mais conhecidas
Histórias desse lugar
Fala de dois irmãos
Que vieram de além mar
Movidos pela vontade
De viver em liberdade
E de fortuna ganhar.
Contam que um dos irmãos
Tornou-se rico e abastado,
Dono de muitos imóveis
E ouro depositado.
Unido com uma escrava
Assim, vivia e folgava
Num luxuoso sobrado.
Por infortúnio ou má sorte,
O outro não logrou riqueza.
Pobre, sem nenhum dinheiro
Mal tinha comida na mesa.
Tristonho, insatisfeito,
Dizia não pode ser direito
Viver, assim na pobreza.
Vendo o irmão prosperar
Em tudo o quanto fazia
E seu trabalho rendendo
Apenas uma ninharia,
Como todo ganancioso
Foi ficando mais nervoso
Com o decorrer dos dias.
Tomado pela inveja,
Ou quem sabe pelo cão,
Este decidiu um dia
Matar o próprio irmão.
Pois como legal herdeiro
Herdaria o seu dinheiro
E também sua posição.
Dessa forma, arquitetou
Um bom plano sutilmente
E assassinou o irmão
Embora fosse inocente
Não ficou preocupado,
Pois fez tudo calculado
E muito secretamente.
Como esperava, herdou
Terra, casa e capital.
Não partiu com ninguém,
Pois o defunto afinal
Vivia com uma escrava
E a Lei claro deixava
Que isso era ilegal.
Herdou também o sobrado
Onde o irmão residia
Com a esposa e os filhos
Em total harmonia,
Animais, móveis, escravo
Do cofre, cada centavo
Sem discussão ou porfia.
Para ver realizados
Os seus planos destrutivos
Por fim, tomou a negra
E os sobrinhos cativos,
Decidiu não desterrá-los,
Mas passou a maltratá-los
Mesmo sem quaisquer motívos.
Assim, passou a viver
Uma vida de fartura,
Cercado de todo tipo
De prazer e aventura
Enquanto os ossos do irmão
Se remexiam no caixão
No fundo da sepultura.
Porém defunto não fala
Mesmo que tenha vontade.
A notícia se espalhou
Pelos becos da cidade
Mas o ocorrido de fato
Não pareceu assasinato,
Ficou, oculta a verdade.
Dentre os filhos do finado
Joaquim era o mais genioso,
Pois mesmo sendo escravo
Era muito impetuoso.
Por ser insubordinado
Era sempre castigado
Quando o tio tava nervoso.
Este, tinha pelo pai
Uma enorme afeição
E sentiu grande tristeza
Ao vê-lo em um caixão.
Quanto ao tio assassino
Inda muito pequenino
Descobriu sua ambição.
Embora não suspeitasse
Que o pai fora assassinado
E que o tio usurpador
Fosse o único culpado
Abatido e descontente,
Maquinava em sua mente
Que algo estava errado.
Como já era de costume
Foi mandado certo dia
Buscar um saco de milho
Na venda da freguesia
E lá encontrou Celeste
Que falava como a peste
No momento que bebia.
Ex escrava de seu pai,
E por ele alforriada,
Agora vivia gosando
A vida sem temer nada
E sabia
O conhecia dese criança,
Fora escrava de seu pai
Ocorreu que um certo dia
Um dos filhos do finado
Descobriu que seu tio
De tudo era culpado
Entrando, pois o rapaz
Em uma luta voraz
Com o tio desnaturado.
Num palacete de luxo
O confronto sucedeu
E na sacada do mesmo
O desfecho aconteceu:
O sobrinho, muito moço,
Com um pouco de esforço
Muito rápido ao tio venceu.
Pela janela do palacete
O jovem jogou o tio,
Que rolou pela parede
E morreu no que caiu.
Nada se deu escondido,
Devido a hora do ocorrido
Não houve ali quem não viu.
O jovem foi preso na hora,
E julgado com braço forte.
Sendo considerado culpado,
Foi condenado a morte.
Ainda quase um menino
Estava traçado seu destino,
A sua triste sorte.
Em frente àquele palacete
Ergueu-se um tablado
Um laço feito de corda
Num porte dependurado
Que balançando ao vento
Ficou esperando o momento
De por fim ao condenado.
Ao cair da tarde
A ferros foi arrastado
Ao centro do cadafalso
Chorando desesperado
Aquele jovem assassino,
Com cara de menino
Para ali ser enforcado.
Mãe, irmã e irmãos
Copiosamente choravam
À porta do palacete
Aos santos imploravam
Para lhes valer
E não deixar morrer
Aquele que tanto amavam.
Ao mesmo tempo um padre
Dava ao jovem o perdão
Pois a fria morte
Já lhe passava a mão,
Ia lhe dar um abraço
Depois que o laço
Tirasse a sua respiração.
No instante seguinte
O carrasco indolente
Pôs o laço no pescoço
Do pobre adolescente.
Depois disse enfezado:
- Pode falar, condenado,
Ao povo o que sente.
Falou o jovem, tristonho,
Antes de ser enforcado:
Palácio das lágrimas,
Este maldito sobrado,
Por ver tão indiferente
As lágrimas de meus parentes,
Serás sempre chamado.
Se a estória é diferente
Quem errou não fui eu
O que o povo comenta
Aqui se escreveu.
O jovem condenado
Teria sido enforcado,
E a lenda, então, nasceu.