Não pretendo sair do meu rincão/ Pois matuto não gosta de cidade

Mote de autoria do poeta Valter Leal da Sopoespes - Sociedade dos Poetas e Escritores de Pesqueira, da qual orgulhosamente também faço parte.


Estrofes em décimas com 10 versos poéticos no estilo Martelo Agalopado, com rimas em ABBAACCDDC.

I
Eu nasci numa terra abençoada
Onde o sol de manhã acorda a gente
Passarinhos cantando alegremente
Numa orquestra feliz e afinada
Contemplando o raiar da alvorada
Um prazer indizível me invade
Viver lá só me traz felicidade
E inunda meu peito de emoção
Não pretendo sair do meu rincão
Pois matuto não gosta de cidade

II
É tão bom acordar com a passarada
E o galo cantando no terreiro
Do café, no pilão, sentir o cheiro
E ouvir o chocalho da boiada
Não existe uma terra mais amada
Quando saio de lá sinto saudade
E me apresso a voltar com brevidade
Só assim deixo em paz meu coração
Não pretendo sair do meu rincão
Pois matuto não gosta de cidade

III
Minha casa é de taipa e bem singela
Com Jesus pendurado na parede
No meu quarto um baú e uma rede
O ferrolho da porta é uma tramela
A cortina que tenho na janela
É o céu e, do sol, a claridade
Ou a lua que traz suavidade
Ao negrume das noites do sertão
Não pretendo sair do meu rincão
Pois matuto não gosta de cidade



IV
Minhas mãos têm os calos da enxada
Mesmo assim sou feliz por trabalhar
Se o bom Deus não deixar chuva faltar
A colheita será abençoada
Minha prole será alimentada
No meu lar haverá prosperidade
E enquanto eu tiver capacidade
Vou plantar e cuidar da plantação
Não pretendo sair do meu rincão
Pois matuto não gosta de cidade

V
Muitas vezes a vida é muito dura
Quando falta a chuva no roçado
Não se colhe e às vezes morre o gado
E então vai-se o tempo da fartura
E assim nessa eterna aventura
Só me resta apelar à Divindade
Pra que Deus de mim tenha piedade
E fazer cair chuva no meu chão
Não pretendo sair do meu rincão
Pois matuto não gosta de cidade

VI
Quando volta a chuva é alegria
Os riachos correndo a céu aberto
E o solo que já quase deserto
Se transforma em verde pradaria
A família que já não mais sorria
Se vê livre de tal calamidade
Agradece a Jesus pela bondade
Quando à noite fizer sua oração
Não pretendo sair do meu rincão
Pois matuto não gosta de cidade

VII
E assim renovada a esperança
Novamente eu começo a planejar
Um futuro feliz a alcançar
Com fartura e tempo de bonança
A tristeza da seca é só lembrança
Que a gente acostuma com a idade
Pois não falta a mim tenacidade
Pra vencer a tristeza do verão
Não pretendo sair do meu rincão
Pois matuto não gosta de cidade

VIII
Sou feliz no lugar que me criei
Pois eu vivo abraçado à natureza
Minha terra é cercada de beleza
Sou plebeu, porém lá me sinto rei
E um dia de lá só sairei
Quando Deus me levar à eternidade
Mas eu peço ao Bom Deus, por caridade
Muitos anos de vida e proteção
Não pretendo sair do meu rincão
Pois matuto não gosta de cidade

IX
Na cidade há barulho e correria
E um povo nervoso e estressado
Cada dia está mais complicado
Pra viver nessa eterna agonia
Só se vê desamor e hipocrisia
Ao invés de amor e amizade
Falta até senso de civilidade
E a lei não protege o cidadão
Não pretendo sair do meu rincão
Pois matuto não gosta de cidade

X
A cidade possui seus atrativos
Para quem lá nasceu e se criou
Ou então pra quem já se acostumou
Porque tem, cada um, os seus motivos
Muito embora alguns sejam cativos
E lá vivam por pura vaidade
Eu espero não ter necessidade
De um dia deixar o meu torrão
Não pretendo sair do meu rincão
Pois matuto não gosta de cidade



 
Edmilton Torres
Enviado por Edmilton Torres em 27/02/2015
Reeditado em 27/02/2015
Código do texto: T5152486
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