TRIBUTO A THERESA

Theresa, esta anciã
cuja história vou contar
não tem fama nem glória
de que se possa falar,
não tem nome ilustre,
nem herança pra deixar
tem só muitos anos
e sonhos para sonhar. 
Viveu sua juventude
na fazenda Lageado
cujos pais eram donos
e senhores de muito gado,
tudo indicava enfim
que Theresa teria um fado
carregaria a burguesia
sempre a seu lado.
Namorou capataz
quase noivou com patrão,
passou o tempo brincando
com sentimento até de peão,
mas tudo na vida passa
se chega a hora de decisão
a idade estava deixando
a moça em apreensão.
Resolveu tirar férias
conhecer outros palácios
foi pra casa de um irmão
nos confins de Santo Inácio
e lá a vida desta Theresa
tornou-se a flor do lácio
encantava os mais pobres
e os mais nobres ricaços.
Foi assim que conheceu
seu Benedito...alguém
dono de farmácia
e de cartório também,
se houve amor não sei
só sei que entre um vai e vem
Theresa casou com seu Dito
embora sem um vintém.
Estavam em Sto. Inácio
e a primeira filha chegou,
foi na cidade de Avaí
que a luta redobrou
mais uma filha nasceu
e agora aqui estou.
Theresa da vida mansa
vivia agora a cismar
sem dinheiro, crianças
o geito era trabalhar
comprou uma velha máquina 
e se pôs a costurar,
costurava dia e noite
até o sono a derrubar.
É preciso tentar a sorte,
outros lugares morando
quase de sul a norte
outros filhos chegando,
já são cinco ao todo
e Theresa costurando,
não só para freguesas
tem os filhos precisando.
Decidem pra melhorar
morar em cidade grande
por os filhos pra estudar,
foi assim que esta Theresa
viu a coisa complicar
as filhas já mocinhas
queriam um bom trajar
pra não ficarem devendo
às colegas do lugar.
Vivia de sacrifício
mas Theresa não deixava
roupa e sapato faltar
em casa humilde morava
mas em colégio de freiras
esta filha estudava.
Certo dia houve mudança
a filha mais velha decidiu
procurar nova bonança
e para São Paulo partiu
antevendo na esperança
dias calmos pra Theresa
e também para as crianças,
emprego e casa arrumou
e aguardou a vida mansa.
Seu Dito por lá ficou
esperando aposentadoria
e Theresa com seus filhos
pra capital se transferia,
foi mais uma das loucuras
que Theresa cometia
pois os filhos já crecidos
sozinha a deixaria.
Theresa da burguesia
da juventude brincando,
Theresa dos cinco filhos
sem companhia, costurando
Theresa sem o seu Dito
toma a atitude mais certa
volta pra ele correndo.
Os filhos aqui ficaram
entregues ao Deus dará
pra que Theresa pudesse
com seu Dito viver lá,
quanto tempo se passou?
quantos dias se apagou?
só sei que nossa Theresa
por muitos anos morou
na cidade de Bauru
com seu Dito que aposentou.
Agora vivia a paz
que Theresa esperava,
os filhos já casados
e dinheiro não faltava,
mas os sonhos de Theresa
mais uma vez desmoronava,
vieram para São Paulo
seu Dito doente estava
a exclerose devagarinho
embora o levava.
Foi num dia mês de março
em que o tempo até parou
Theresa vê em delírio
que alguma coisa findou
o seu Dito já partira
sem siquer dizer já vou.
Theresa sentiu desamparo
naquela casa vazia
porque duravam tão pouco
os seus dias de alegria?
agora que o Dito se fora
o que é que ela faria?
Nada como o tempo
pra trazer conformação
e Theresa em seu orgulho
quer viver na solidão
foi morar lá em Lindóia
sozinha numa pensão.
Logo voltou a São Paulo
tão só não dá pra viver
depois voltou pra lá
aqui não quer permanecer,
agora lá ela está
sem saber o que fazer.
Theresa da burguesia
da juventude brincando,
Theresa dos cinco filhos
e uma vida costurando,
Theresa de Benedito
e seu cartório empurrando,
Theresa de muitos anos
continuava sonhando!
Thereza embora se foi
e hoje com esta imensa
saudade de ti
estou querendo dizer
sou tua filha Marly.











 
Moly
Enviado por Moly em 05/06/2007
Reeditado em 13/05/2017
Código do texto: T515036
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