Minha serenata
Esperei durante meses
Por uma oportunidade
Me juntei aos camponeses
Que mudaram pra cidade
Não acreditei às vezes
Nessa tal felicidade.
Fiz da minha ansiedade
Um portal pra injustiça
Nele pus minha saudade
E também minha cobiça
Abri mão da liberdade
E paguei pela preguiça.
Caminhava pela rua
À procura de alguém
Esperava olhando a lua
Por alguém que nunca vem
Nessa caminhada nua
Eu jamais estava bem.
Plantei flores no caminho
Onde alguém foi passear
Eu ali fiquei sozinho
Esperando ela passar
Mas ouvi um burburinho
E tentei me afastar.
Eu tentava não dizer
Sobre o sentimento louco
Para não vê-la sofrer
Eu fazia ouvido mouco
Mas naquele padecer
Tudo parecia pouco.
Fui um dia na fazenda
Pra poder vê-la à distância
Ela vestida de prenda
Via a minha intolerância
Se era real ou lenda
Ficou na ignorância.
Eu naquela ansiedade
Vi o meu amor morrer
Caminhei pela cidade
À procura de prazer
Porém a realidade
Eu tentava isso esquecer.
Fui então ouvir o vento
Que baixinho me dizia
Não procure passatempo
Se afaste da orgia
Mude o seu comportamento
E trabalhe todo dia.
Então fiz o juramento
De seguir esse conselho
Também naquele momento
Começar servir de espelho
Pra curar o sofrimento
De quem não dobra o joelho.
Procurei um orgulhoso
Para oferecer ajuda
Ele respondeu nervoso
Não preciso que me iluda
Você é um preguiçoso
Que sequer a roupa muda.
Fui então ver o vigário
Que dizia ser um santo
E no confessionário
Escondido sob um manto
Perguntou pelo salário
Que eu ganho quando canto.
Respondi que nada ganho
Sou apenas seresteiro
Que ajuda algum estranho
A achar um paradeiro
E as sobras que apanho
Divido com o companheiro.
A seresta que eu faço
Não é pra ganhar dinheiro
Nunca faço estardalhaço
A parar sou o primeiro
Alguns me chamam palhaço
Mas nunca de desordeiro.
O vigário disse então
Para que me procurou?
Você é um falastrão
Que o meu tempo ocupou
Nunca lhe darei perdão
De você Deus se afastou.
Ao voltar para o meu lar
La eu vi uma mulher
A minha roupa lavar
E dizer que bem me quer
E quando eu quiser cantar
Cante aquilo que souber.
Perguntei quem era ela
Respondeu que não diria
A minha casa era dela
Porem disso eu não sabia
Sem virar a taramela
A minha porta ela abria.
Insisti em perguntar
O que mais ela queria
Ela disse a me olhar
Entender o que eu sentia
E então disse a cantar
Simplesmente eu sou Maria