FRANCISCO DE ASSIS- A FACE DO SOBERANO- PARTE II
E essas oportunidades26
Que sempre hão de aparecer,
Onde muitos jovens buscam
A glória e o vão poder.
São sempre um caminho
Pra quem quer se promover.
Não pudera se conter27
Nessa chance tão exata.
Percebera o momento
Para uma aventura grata,
De satisfazer um desejo
Que tanto fere e mata.
Foi uma guerra chata28
Que veio se suceder
Trazendo muitas desgraças,
Morte, fome, e sofrer
Pra seus conterrâneos
Sem ninguém merecer.
Empenhou-se com prazer29
Em honra de sua cidade;
Alistou-se no exército
Com muita felicidade
Animando os companheiros
Com sua graciosidade.
A guerra na verdade30
Trouxe tanta destruição.
Meu Deus que crueldade,
Tanta dor, desolação!
E depois de arrasado
Foi deposto na prisão.
Um ano de ilusão31
Amargou inutilmente.
Foi lá que percebera
Que essa vida presente
Era frágil e mesquinha,
Inútil e tão demente.
O nosso jovem envolvente32
Pelo o pai foi libertado.
Depois de cruciais açoites
E quase ser massacrado
Retorna para Assis
Muito frágil, debilitado.
Era triste seu estado,33
O mais ardil de se ver.
Ora tão delirante
Ora em tempo de morrer.
Passando assim muito tempo
Somente, sem se mexer.
Logo que veio, a saber,34
Que se tinha melhorado.
Alegrou-se sutilmente
Ficando muito animado.
Percebeu que o seu sonho
Não ficou decepcionado.
Cinco anos já passados35
A lição não aprendeu,
Partiu severamente
Em busca do sonho seu:
Pois o Papa e o Império
Outra guerra promoveu.
Desta vez lhe aconteceu36
Um fato muito tocante.
Foi ao repousar a noite
Em um vale por instante,
Um sonho lhe sobreveio
Tão profundo e radiante:
Um arsenal fulgurante,37
Rolos de seda, brocados,
No seio de sua casa
Caídos por todos lados
E uma voz que dizia
É teu e de teus soldados.
Com olhos aboticados,38
Ansiosos, joviais,
Ele ver a confirmação
De todos seus ideais.
E à mão cunha a espada
Contra todos seus rivais.
Ei-lo em meios a matagais39
Ansioso, muito veloz
Galopando ás estradas
Igual lobo feroz,
Ruminando no interior
O zunido daquela voz.
Como um rio na foz40
Esbrajeva saltitante.
Outro fato lhe sucedera
De um modo muito tocante
Novamente ao repousar,
Deixando-lhe atordoante.
Uma força aconchegante41
Brilhara com tal vigor.
E uma voz forte do alto
Ardia-lhe o interior:
- Quem te pode dar isto
O patrão ou servidor.
- O Patrão meu bom senhor,42
Respondeu sem hesitar.
Como fossem bons amigos
Puseram-se a conversar
Um parecer tão gostoso
Bom de se apreciar.
-Tu deves então retornar43
Falara-lhe esse senhor,
À tua Assis amada,
Terra de muito valor,
Onde eras tão somente
Menestrel e trovador.
E banhado de temor44
Acordou-se aturdido
Sem ter noção alguma
Do que tinha acontecido
Ao deixar seu coração
Bastante frágil, comovido.
Confuso e decidido45
À sua Assis voltava
A fim d’assim desvendar
Aquilo que incomodava;
E ao vê-lo retornar
O povo lhe reprovava.
Mas ele nem ligava45
Para essas gozações.
Apenas se contentava
Com as recriminações.
Só queria discernir
Aquelas foscas visões.
Cansado de ilusões46
Resolveu se empenhar.
Naquilo que lhe fazia
Seu coração palpitar
Na certeza de um dia
Ver tudo se realizar.
Resolveu se afastar47
Daquela agitada vida.
Sentia sua doce alma
Bastantemente envolvida,
Sedenta por uma resposta,
Vazia, sem ter saída.
De cabeça erguida48
Cultiva sua bonança,
Alimenta a procura,
Mantém a perseverança,
Pode até perder a luta
Mas nunca a esperança.
Em meio à sua andança49
Pensando qual a razão
Que Deus lhe concedia
À sua realização,
Optou por recantos ocultos
Pra fazer meditação.
Entre a brava solidão50
Assim ele ia passando
Insistente na sua busca
E sempre se perguntando
Qual seria a resposta
Da qual tava procurando.
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Continua na próxima edição.