CORDEL DA PROPINA
O primeiro me chegou
Toda pose de honesto
Tímido titubeou
Temeroso de seu gesto
Ofereceu-me suas vantagens
Disse ser top de linha
Fez exigências e chantagens
Prometeu-me uma caixinha
Eu lhe disse: meu senhor
Não me venha com merreca
Seus trocados, por favor
Pode enfiar na cueca
O segundo me chegou
Pra mostrar poder de fogo
Nem me cumprimentou
Foi logo abrindo o jogo
Com a voz suave e rouca
Muito tentou me convencer
A quantia era pouca
Pedi-lhe pra me esquecer
Sua proposta fez-me rir
Valor baixo não compensa
Desistiu de insistir
Abriu o bico pra imprensa
O terceiro mal chegou
Quis pegar-me de surpresa
Abriu a maleta e derramou
Euro e dólar sobre a mesa
Nem perguntei seu nome
Se era o Chefe ou tesoureiro
Não estou passando fome
Desprezei o seu dinheiro
Talvez num ato de protesto
Sem ao meu preço chegar
Alardeou que não presto
Foi ao MP me delatar
Depois fizeram parceria
Cada qual deu seu quinhão
Pagaram quanto eu pedia
Veio grana de montão
Tive conta no exterior
Comprei até uns deputados
Advogados, por favor,
Não deixem sermos algemados
Sem mais essa nem aquela
Corre, corre na geral
Acabamos numa cela
Da Polícia Federal