CORDEL DA PROPINA

O primeiro me chegou

Toda pose de honesto

Tímido titubeou

Temeroso de seu gesto

Ofereceu-me suas vantagens

Disse ser top de linha

Fez exigências e chantagens

Prometeu-me uma caixinha

Eu lhe disse: meu senhor

Não me venha com merreca

Seus trocados, por favor

Pode enfiar na cueca

O segundo me chegou

Pra mostrar poder de fogo

Nem me cumprimentou

Foi logo abrindo o jogo

Com a voz suave e rouca

Muito tentou me convencer

A quantia era pouca

Pedi-lhe pra me esquecer

Sua proposta fez-me rir

Valor baixo não compensa

Desistiu de insistir

Abriu o bico pra imprensa

O terceiro mal chegou

Quis pegar-me de surpresa

Abriu a maleta e derramou

Euro e dólar sobre a mesa

Nem perguntei seu nome

Se era o Chefe ou tesoureiro

Não estou passando fome

Desprezei o seu dinheiro

Talvez num ato de protesto

Sem ao meu preço chegar

Alardeou que não presto

Foi ao MP me delatar

Depois fizeram parceria

Cada qual deu seu quinhão

Pagaram quanto eu pedia

Veio grana de montão

Tive conta no exterior

Comprei até uns deputados

Advogados, por favor,

Não deixem sermos algemados

Sem mais essa nem aquela

Corre, corre na geral

Acabamos numa cela

Da Polícia Federal

Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 07/02/2015
Reeditado em 07/02/2015
Código do texto: T5128954
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.