O fim do sofrimento

Uma cruz foi colocada

Numa curva do caminho

Ficou um pouco inclinada

Pelo peso de um ninho

Feito pela passarada

Com um ramo de espinho.

Alguém viu aquela cruz

Perguntou quem a fizera

E por que não reproduz

No caminho da viela

Ou então não a conduz

Para o morro da favela.

Em seguida perguntou

Quem morrera na estrada

E por que alguém matou

Se ninguém devia nada

Ele então esbravejou

Essa cruz é palhaçada.

Um judeu negociante

Respondeu ao viajante

Você é um caminhante

Que não caminhou bastante

Mostra ser ignorante

Aborrece a todo instante.

Você não acompanhou

O andar da carruagem

Quando aqui ela passou

Pra seguir sua viagem

O meu filho ela levou

Por ser homem de coragem.

O meu filho não voltou

Sequer teve o seu caixão

Isso é tudo que restou

De um jovem cidadão

Que na terra caminhou

Pra cumprir sua missão.

Foi levado na carroça

Posto a ferros no porão

Sua paz serviu de troça

Para aquela multidão

Amarrado em corda grossa

Sem direito à refeição.

O seu crime foi falar

Que um dia ia morrer

Nesse dia ia acabar

Todo o seu padecer

E somente por amar

Voltaria a renascer.

Foi então encarcerado

Sem direito e defesa

Ninguém ficou ao eu lado

Era uma presa indefesa

Teve o seu nome negado

Mas manteve a realeza.

Sua mãe entristeceu

O seu pai se revoltou

A mãe o filho perdeu

O pai não acreditou

Uma amiga entristeceu

E o seu rosto enxugou.

O viajante sentou

Cabisbaixo e deprimido

Quem tanto mal provocou

Deveria ser bandido

Mas alguém observou

Falar nisso é proibido.

É proibido falar

Proibido maldizer

Proibido reclamar

Proibido algo querer

Proibido alimentar

Proibido o bem fazer.

Essa é a uma razão

Para a cruz que você viu

Mas há outra explicação

Que talvez ninguém ouviu

Alguém quis dar o perdão

Mas ninguém o permitiu.

Uma dama despojada

Disse que perdoaria

Ela era advogada

Com total autonomia

Viera sem ser chamada

O seu nome era Maria.

Essa dama advogada

Todo o tempo trabalhou

Vinha sempre acompanhada

Pelo homem que casou

Apesar de estar cansada

Ela nunca reclamou.

Vendo algum olhar tristonho

Ela sempre perguntava

Qual seria o grande sonho

Que alguém acalentava

E falava que eu ponho

A semente que faltava.

Foi então que o viajante

Levantou pra caminhar

Tinha de seguir adiante

Para alguém poder voltar

E a cruz naquele instante

Começou a desmancha

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 07/02/2015
Reeditado em 07/02/2015
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