FRANCISCO DE ASSIS- A FACE DO SOBERANO- PARTE I

Vou contar para vocês01

Um grande caso de amor,

Um sentimento profundo

Nascido do interior

Que outrora aconteceu

Entr’ um servo e seu senhor.

Meu caro amigo leitor02

Leia com muita atenção

Esse fato majestoso

Narrado com emoção,

Que lhe vai contagiar

O seu pobre coração!

Deixo de enrolação03

E vou ao que interessa,

Que barriga vazia é fome

E boi com sede tem pressa.

O caso acima citado

Vou começá-lo depressa.

De uma cidade à beça04

No burgo italiano,

Pacato por natureza,

Mas com negócio tirano.

Veio a mola da Igreja,

A face do Soberano.

Entre anseios e planos05

Vivera literalmente

O menino italiano,

Prodígio do continente,

Que andava pela rua

Cantando alegremente.

Tinha o bambino contente06

Motivos pra se alegrar.

Desde o seu nascimento

Vivera para cantar.

Desfrutava da riqueza,

De dinheiro e bem- estar.

De uma família exemplar07

Tivera sua formação.

Nunca fora coroinha

Mas tornou-se bom cristão.

Sua mãe ao batizá-lo

Pusera seu nome João.

Não estando, eis a questão,08

Seu pai um homem arisco.

Causou-lhe indignação

Essa afronta, esse petisco.

Ao retornar da França

Dera-lhe o de Francisco.

Ninguém lhe punha risco.09

Tudo lhe favorecia

E o velho trabalhava

Na sua tão valentia.

Quanto mais tinha dinheiro,

Tanto mais ele queria.

E foi nessa tal mania10

Soberana de riqueza,

Que seu Pedro dedicava

O seu esmero, presteza.

Para dar nome a família;

Ganhar título de nobreza.

Já sua esposa, francesa,11

Mulher de bom coração,

Não tinha tanta ganância

Somente amor, devoção.

Ensinava a Francisco

Como ser bom cidadão.

E foi nessa danação12

Que o menino cresceu.

E com o passar do tempo

Ele logo aprendeu

Que aquele grande império

Tudo, um dia seria seu.

De imediato aprendeu13

Do pai o seu talento.

Ajudou-o por longos anos

No triste procedimento,

Tornando-o cada vez

Mais rico e avarento.

Este empreendimento14

Tocava afavelmente.

Alegre por natureza,

Jovial, tão competente

Ia conquistando a todos

Incontestavelmente.

Sem querer soberbamente15

Era sempre o mais querido.

Era o rei da juventude,

Das festas o preferido.

Nos bailes e nos eventos

Era sempre enaltecido.

E mesmo sendo erguido16

Como rei e majestade,

Nunca entrou na linha

Da tal vulgaridade;

Desempenhava-o bem

Com boa personalidade.

Algo nele na verdade17

Parecia então bilhar.

Se era a sua brandez

Refletida em seu olhar.

Só se sabe que seu modo

Ia a todos conquistar.

Crescendo seu patamar18

Entre os mais favorecidos,

Era a peça principal

Dos bailes acontecidos.

Mesmo assim seus anseios

Não eram submergidos.

E entre aplausos, ruídos19

Passou-se a adolescência

E o nosso jovem crescia

Na auto-suficiência

Enchendo-se de elegância,

De glamour, saliência.

No auge da inocência20

Sem saber o que lhe vinha.

O jovem buscava sonhos

Dos quais não se continha;

Todo dia era aventura,

Coisa fútil e mesquinha.

E foi mesmo nessa linha21

Que seu trabalho tocava.

Era moço de compromisso

Nada lhe atormentava.

Apesar de ser tão rico

Jamais se orgulhava.

Pois o tempo se passava22

Tão devagar e tão lento

E Francisco aproveitava

O seu empreendimento

Para ser como seu pai:

Homem forte e sedento...

Mas outro abrasamento23

Consumia-lhe no seu peito:

Era um febril desejo,

Um sonho muito imperfeito;

Quisera ser cavalheiro,

Homem de fibra, perfeito.

Naquele tempo sem jeito,24

A Política italiana

Debatia-se em fração

Atordoante, profana:

Cidade contra cidade,

Coisa tão desumana!

Por ganância soberana,25

Pela a glória e o poder

A nobreza assisiense

Foi, portanto recorrer,

A Perúgia, sua vizinha

Para a plebe combater...

Continua na próxima edição