VIDA SECA
VIDA SECA
Poesia de cordel
Por Honorato Ribeiro.
Luiz Gonzaga cantou
Cantou muito pro sertão
Com sua sonfona branca
Tocou xaxado e baião
Mostrou pra todo Brasil
O sofrimento febril
Do nordestino a canção.
Vida seca no nordeste
Chuva caia minguada
O gado morria à míngua
Sol rachava o chão e nada
O povo pedia a Deus
Pedia como filhos seus
Pra chuva cair invernada.
O romance “Vidas Secas”
Graciliano contava
O sofrimento do povo
E da seca que matava
O sol rachava e a seca
E a chuva não caia, Nega!
No sertão nada faltava.
São Paulo hoje é nordeste
Belo Horizonte também
Rio de Janeiro está seco
O povo reza, porém,
Pede chuva pra Cantareira
Sua prece é verdadeira
Pra virgem lá de Belém.
O sudeste tudo é seca
A culpa não vem do céu
Desmataram tanta mata
Pra fazer carvão qual mel
Depredaram todos rios
E fizeram os desvios
E abandonaram ao léu.
Seca era pros nordestinos
Em São Paulo era da garoa
“O sertão vai virar mar”
E o barco vira a sua proa
A energia vira apagão
Tem que usar o lampião
E a coisa não está tão boa.
O impacto é profundo
Em fevereiro o apagão
Que deixou oito estados
Do nordeste a lampião.
A usina de Três Marias
Ta vivendo em agonia
Gastou cinquenta Milhão.
“A asa branca bateu asa,
Bateu asa pro sertão”.
O céu azul não há nuvens
Pra cair chuva no chão;
O Velho Chico está seco
Virou um pequeno beco
Um riacho ou ribeirão.
Camaçari na Bahia
Parou a solidificação!
Da substância dos fornos
Que virou o apagão.
A culpa não é de Deus
Nem do povo, os judeus
Mas de quem manda a Nação.
São Paulo, o povo reclama
Reclama e tem sua razão
Pois o imposto que pagamos
“Somos nós” que é patrão...
Mas o povo analfabeto
Não sabe votar no certo
Pois é cego nesse chão.
Blecautes não são problemas
Exclusiva no Brasil
Vinte sete estrelas não brilham
Precisa passar Bombril...
Ficha limpa foi aprovada
Porém foi engavetada
De corrupto há mais de mil.
Botam culpa em São Pedro
E tira seu corpo fora
Agora pede a Argentina
Energia sem demora...
A água faz energia
Sem ela morre até jia
Mas o calor aqui assola.
Sobradinho na Bahia
Virou mar cá no sertão
Guarabyra já cantava
Com Sá a sua canção.
Mas a profecia mudou
Aqui tudo já secou
“Prepara o seu coração”...
“Pras coisas que vou contar
Eu venho lá do sertão”
Geraldo Vandré cantou
Compôs linda esta canção
Jair Rodrigues morreu
Sua voz estremeceu
E a seca a rachar o chão.
“Santa Maria Madalena,
Pedi a nosso Senhor que,...
Que nos dê chuva na terra
Por esmola” aqui, porque
O povo pode rezar
Esse folclore e orar,
E a água? O que fazer?
A lavagem do Bonfim
Sincretismo em Salvador
E o povo enche a praça
Pra louvar Nosso Senhor.
Mas a nossa tradição
De jogar água no chão
Acabou-se a louvação.
São Francisco brasileiro,
Tenha pena, tenha dó,
Se vem a seca que mata
Deixando tudo em pó;
Depois o céu escurece
Aí, então, vêm as preces
Do povo que sofre só.
Se a água acabar de vez
Dos rios desta Nação
Não foi Deus que fez assim
Foi tanta poluição
Das indústrias e a fumaça
Dos veículos nas praças
Ninguém toma solução.
Poderia ser evitadas
Essa triste situação
O povo é quem paga o pato
Dos impostos e inflação
O pulmão do mundo chora
As lágrimas caem agora
A lamentar a explosão.
Carro pipa é a solução
Levando água pro povo
Pois a chuva está escassa
E a seca chegou de novo
Todo povo é nordestino
Aqui e ali veio o destino
No asfalto fritam-se ovo.
A falta d`água e de luz
Estão prevista o apagão
O imposto sobe dia a dia
E o povo sem um tostão.
Fizeram uma cartilha
Pra obedecer nessa trilha
Que governa esta Nação.
Gás carbono é venenoso
E o ar está tão poluído
Do nariz só sai carvão
E o barulho no ouvido
Poluem tudo até a lua
Não dá mais brilho está nua
O céu ficou esquecido.
Escolas, shoppings, hospitais
Vão fechar as suas portas
E a saúde como fica?
E o governo não importa?
Vem socorro da Argentina
Talvez de Cuba ou da China
O medo fecha as comportas.
Té quando será preciso
Manter essa redução
Da água e da energia aqui
Com medo, novo apagão?
Tem que agir como Israel
Água do mar é qual mel
E acaba essa confusão.
Tem que usar tecnologia
E do mar água nascer
Dinheiro da Petrobrás
Todos têm que devolver
Pois o dinheiro é do povo
Tem que devolver de novo
Tem que a polícia prender.
Furar poços artesianos
É uma das soluções
Cabem agora as empreiteiras
Tirar de lá os ladrões
E furar onde tem água
Pro povo sair da mágua
Pro carnaval fazer cordões.
Vou terminar meu cordel
Pedindo muita atenção:
O povo tem que ir pra rua
E fazer grande ação
Pra reforma no Congresso
Da política e sucesso
Pro povo desta Nação.
Quem já foi não será mais
Candidato na eleição
O projeto é mito bom
Não haverá reeleição.
Vai acabar com a monarquia
Voltará a democracia
Também livre a votação.
“Porque gado a gente cria,
Engorda, depois até mata,
Mas com gente é diferente”.
Disparada a gente acata
É o Brasil de carne e osso
Até lá no Mato Grosso
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hagaribeiro