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DO MEU NOVO LIVRO AINDA EM ANDAMENTO:
"MINHA VIDA PELA JANELA"

“Quarteto da Rima”

A SAGA DE SARA E DE JOÃO



“O MASCATE REGATEIRO”


Era João dos sonhos, minerador
E Sara esperança, bela amada,
Buscar ouro da terra era a meta
Para ele assim abrir sua estrada,
E partiu nesta sua busca incerta
No raiar duma serena madrugada.

Sara derramou muitas lágrimas
E era sincero e triste seu chorar,
Seriam meses perdido nas serras
Sem data marcada pra retornar,
Seriam dias de longa saudades
Só rezas e sonhos para consolar.

Começou um constante martírio
De dias de saudade perecendo,
Vendo as noites frias chegando
Os amargos dias amanhecendo,
A alma a cada dia mais sentida
E o apetitoso corpo padecendo.

Primeira noite de uma lua cheia
Sentiu seu mundo bem pequeno,
Sentou-se a soleira da sua porta
Lembrando-se do seu belo moreno
Seus cabelos louros já brilhavam
Molhados com as gotas de sereno.

Foi-se o embora o mês de maio,
E junho veio trazendo a friagem
Trouxe ainda nas asas do vento
A bela misteriosa e viril imagem
Figura feiticeira de um mascate,
Mostrando seda e estampagem.

Ele encantou o coração de Sara
Com língua torta de estrangeiro
O seu olhar azul de peixe morto
Aquele sorriso fácil bem brejeiro
Seu linguajar tão bem floreado,
E com o seu dizer mais lisonjeiro.

Na fragilidade da menina Sara
Implantou sua mágica fantasia,
Povoou os seus sonhos noturnos
Preencheu-lhe as horas do dia,
Mandou toda a tristeza embora
Trazendo de volta a sua alegria.

O sorriso calculado e regateiro
Sua voz de tenor bem timbrada,
Sua seresta de outras querência
Nas altas horas da madrugada,
Era bálsamo para a alma ferida
De uma nova Sara encabulada.

Sem mea culpa e sem o remorso
Ela caiu nos braços da tentação,
Mergulhando no doce chamego
Do ladino mancebo e mandrião,
Que vivia para vender os sonhos
Às mulheres deixadas na solidão.

Foram-se Junho e julho embora,
E Sara começou a se estranhar,
Uma barriga já bastante saliente
Começando já mesmo incomodar
E em horas, as menos esperada,
Ela começou também a se enjoar.

O mascate malandro e falante,
Já sabia do ouro e garimpeiro,
Achou ser bom à hora de partir
Deixar de ser o galo de terreiro,
Sem a menos de Sara se despedir
Sumiu no caminho do mascateiro.

Sara procurou uma velha índia
Dona da reza e encantamento,
Pagou-lhe com a única moeda,
De uma sobra e esquecimento
Que recebera de sua madrinha,
No dia feliz do seu casamento.

Entre gemidos e o xingamento
Ela pôs fora sua carga pesada,
Outro mês de muita incerteza
Esperando tal riqueza sonhada
E com muita dúvida agourenta,
Fustigando a consciência pesada.

E chegou o grande dia, afinal
Aquele rapaz moreno retornou,
Veio com a felicidade no olhar
Mostrando muito ouro a brilhar,
Se abraçando a sua amada Sara
A quem queria tanto deslumbrar.

Comprou fazendas com escravos
Se ela queria algo era só lhe pedir
Comprou cavalos e grande boiada
E tudo que ele queria conseguir
Mas só não comprou foi a alegria
Para ver de novo sua Sara sorrir.

Nem os mais famosos médicos
Conseguiram sua Sara mudar,
Foi assim que ele se despediu
Para outras sendas desvendar,
Sara triste viu seu moreno partir
E novamente se pôs a esperar.

cap: 02

Os dias passavam lentamente,
E Sara agora nem se fazia bela,
Ela passava os dias meditando
E a noite ela acendia uma vela,
Tentava adivinhar os contornos
Das paisagens vistas da janela.

Nos meandros do pensamento
Sente dor no coração que bate,
A alma voa atrás das respostas
Ouve os cães da casa que late,
Força à vista na feia escuridão
Tentando avistar o seu mascate.

E numa tarde do segundo mês
Que a figura imponente surgiu,
Já avistou imponente casarão
Onde era a velha casa e sorriu,
Disse, aqui é que me aposento
Neste céu que pra mim abriu.

Dou fim no mineiro rico e idiota
E depois me caso com a viúva,
Esta riqueza que ele garimpou
Vai me servir bem como a luva,
Adeus a senda de mascateação
A poeira e a friagem da chuva.

Quando aproximou do portão
Badalou no sino do chegante,
Mas já fora a tempo avistado
Por Sara e um acompanhante.
Foi recebido com todo agrado
Pensou em encontrar a amante.

Ao entrar na sala de recepção,
O preto grande tomou a mala,
Outros agarraram seus braços
Aos empurrões ele saiu da sala,
Foi levado ao meio do pomar,
Viu-se defronte a uma senzala.
.
Foi atado no tronco de castigo
Teve as finas roupas retiradas,
Sentiu ter encontrado o inimigo
E que sua doce vida passada,
Estava a correr um serio perigo
Se metera em grande enrascada.

O látego doeu no seu costado
Ele gritou como um possesso,
E cada nova chibatada sentia
O lanho no seu corpo impresso,
Gritava os santos que conhecia
Mas só aumentava o processo.

De repente o chicote aquietou,
Foi virado em direção à cozinha
E viu esfuziante Sara a sua frente
Bela e soberba como uma rainha.
Ela o olhava demonstrando nojo,
Como se visse um cocô de galinha.

Lhe pediu perdão a contemporizar
Olhando de cima ela não atendeu,
E chamando um escravo e ordenou,
Você faça aquilo que me prometeu,
O escravo com a faca de serviço,
Castrou o mascate que só gemeu.

Agora tratem da infeliz criatura,
Igual a um porco do chiqueiro
Coloque bastante sal na cesura.
Soltem no rumo do mascateiro
Se algum dia voltar à fazenda,
Enforque-o no pé de abacateiro.

Tudo feito conforme as ordens
Ela deu folga ao trabalhador,
Libertou com carta de alforria,
O escravo que fez aquele favor
Juntou às malas foi a São Paulo
Para encontrar com o seu amor.

Foi festa de abalar paulistano,
Entre os lençóis contou a saga,
João tinha os seus pecadinhos
Achou melhor não jogar praga,
Ia amar Sara que era sua vida,
E não deixar vazia a sua vaga.

Foram com amor fazendo filho
Criando prole já no chão mineiro,
Encomendavam novo rebento
Sem de desmamar o derradeiro,
Às vezes nascia até trigêmeos
Fabricando de janeiro a janeiro.

Foi assim já na rapinha do tacho
Dobrando o cabo da esperança
Que deram uma grandiosa festa
Comemorando a doce bonança,
De Sara ostentando nova barriga
Estar esperando a nova criança.

E assim ao secar a boa nascente,
Na escala de nascenças sem par,
Numa tarde florida de primavera
Resolveu as flores a desabrochar,
É que nasceu um belo mancebo
Com nome sestroso de Riba Mar.

Cap: 03

RIBAMAR

Da bela prole de sara e de João
Ribamar é quem mais destacou.
Era um garoto traquina e faceiro,
Logo aos treze anos já aprontou.
Engravidou sua jovem professora
A força na polícia com ela casou.

Antes de completar quinze anos
Já era papai o menino Ribamar
E resolveu dar conta da sua vida,
Sem desculpas e sem reclamar.
Criaria seu primeiro pequerrucho,
Mesmo morrendo de trabalhar.

O João sempre muito generoso
Orgulhoso do seu filho machão,
Deu-lhe de herança a fazenda,
Para que pudesse ganhar o pão.
Ribamar lutador foi prosperando
Longe da família naquele rincão.

A família morando lá na capital
Viraram doutores com boa fama!
Ribamar trabalhava e enricava,
Fazia filho à noite na sua cama.
A dona Luzia já bem desgastada
Morreu sem fazer nenhum drama.

Ribamar ficou ano e meio viúvo,
Só e com dez filhos para criar.
Começou a frequentar as festas,
Que faziam perto daquele lugar
Até que ele conheceu a Elisabete,
E aos beijos passaram namorar.

Ribamar numa secura de dar dó
Ficava esfregando em Elisabete,
Ela menina esperta, colaborava
O deixava quase no Tete a tete.
Na hora agá saltava de banda,
Dizia séria: sem casar num mete.

E por isto em dois meses e meio,
Casou acasalando com a bela,
Nas núpcias e calor da coberta
Soube que ela não era donzela
Lamentou, chorou e se consolou,
Aceitando os argumentos dela.

Ribamar se você é moço viúvo
É porque também fez a vontade,
Morei na frança e não tem essa
De mulher guardar virgindade,
Aqui ninguém vai saber disto
E atrapalhar a nossa felicidade.

Acho justo ponderou o Ribamar
O que conta é daqui para frente,
Pois o que nossos olhos não vêm
O coração também nunca sente
Quer saber? Vou fazer os filhotes
E mostrar que sou é competente.

Vinte anos passa bem depressa
Dezoito filhos a Elizabete lhe deu,
Ele ficou triste com o acontecido...
Sós dezoito, por um descuido seu.
Deixou-a levar uma saca de café
Seu décimo nono filho se perdeu.

Prole de vinte oito filhos e filhas
Ele ainda vivendo à meia idade,
Sofreu novo golpe na sua vida
Que lhe trouxe mais infelicidade.
Com cuidados de filhos médicos
Elizabeth se foi pra eternidade.

Ribamar tinha dezessete netos,
Dos filhos moradores na capital,
Tinha muito dinheiro nos bancos,
Tinha lucros da fábrica industrial,
Mas com a morte da esposa partiu
Trocou a fazenda por novo ideal.

Ribamar não fez curso superior
Mas era inteligente e educado,
Amava a arte e era bom orador,
Subiu no partido que era filiado,
segundo ano dentro do partido
Concorreu à vaga de deputado.

foi eleito com maioria de votos
Não decepcionou a confiança,
Trabalhou buscando os recursos
Deu ao povo nova esperança,
Construiu estrada deu emprego,
Foi firmando o poder e aliança.

Com contatos políticos e a fama
Conheceu a filha de um coronel
A Laura Landi Prieto e Andrade,
Entre namoro e um curto noivado
Divididos em horas na cidade,
Casaram-se vivendo a felicidade.

O Ribamar já quase cinquentão
Com fogo do primeiro casamento,
Laura sadia logo cresceu barriga,
Aumentou mais o contentamento
Ribamar tão contente e orgulhoso,
Com novas ideias no pensamento.

Cap: 04

“UM FILHO TORTO”

O seu primeiro filho com Laura
Um garoto louro e ressabiado,
Crescia forte e muito diferente.
Dos irmãos bem comportados
Ia contra a política de opressão,
Usada no partido do deputado.

Recebendo diploma do primário
Judiava do pai com sua revolta!
Com quatorze anos saiu de casa
A cidade estranha abriu a porta,
Aprendeu o oficio de sapateiro
Levando uma vida pobre e torta.

Algumas vezes já arrependido,
Da mãe se lembrava já saudoso,
Então procurava saber noticias
Mas sempre no seu jeito tinhoso.
Sabia dos irmãos e suas riquezas,
E vivia sonhos de porvir duvidoso.


Aos quinze anos e porte adulto
Louros, olhos azuis como o mar,
A herança do sangue materno.
Garotas doida para o namorar,
Ele carregava seu céu e inferno
Decidindo a casa nunca voltar.

Mesmo com seus poucos anos
Sua mente não era de criança,
Já marcada no seu desengano
Tentando afastar a lembrança
Via a agrura da própria escolha,
Da realidade sem a esperança.

Era a vivência que ele escolheu
Esquecendo o povo que amara,
Derrubando cerca de espinhos
Verdade para ele limpa e clara
Assim às vezes não via barreira
Batia no muro, quebrava a cara.

A cidade chamada Caratinga
Grande paraíso e bela cidade,
Ele adolescia, mas sem estudar
Sem vícios ou muita maldade
Tinha a coragem da juventude,
E procurava a tal de felicidade.


Final do primeiro cordel.
A saga continua.
Trovador das Alterosas
Enviado por Trovador das Alterosas em 31/01/2015
Reeditado em 02/02/2015
Código do texto: T5121118
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