Corcoronídeo

Nascido do estrume de um bezerro

Criado sob um pé de cajá

Batizado com cana de ouro preto

E hóstia de carne de gambá

Pense num bicho horrendo

Que nasceu nas bandas do Ceará!

Quando menino era arengueiro

Só queria saber de brigar

Cuspia, chutava e puxava o cabelo

De quem não o deixasse brincar

Espantava a molecada

E também os fazia chorar

Vivia solto pela rua

Aquele projeto de cão

Quando não estava, era tranquilo

Quando chegava, era só confusão

Xingava os velhos e os novos

Vergonha não tinha não

Quando virou adolescente

Ficou pior do que já estava

Além de fumar cachimbo

Também tomava cachaça

Se ele sóbrio já era encrenqueiro,

De porre era uma desgraça

Não se sabe ao certo

Como chamava o menino

Foi um velho gaiato

Que o chamou de Corcoronídeo

Porque tinha a venta grande

Era magrelo e também comprido

Aterrorizou também na madrugada

As moças de Tianguá

Corria virado o bode

Somente pra aprontar

Roubava suas camisolas

Só para poder espiar

Quando ia ficando adulto

Sua imagem mudou

Aquele jovem magrelo

Outra coisa virou

Em sua testa cresceram chifres

E um rabo ele também ganhou

Agora sua aparência

Era de se arrepiar

Seus olhos afundaram na face

Negros como a noite sem luar

E falava uma língua estranha

Difícil de decifrar

Correu pelo mundo

Sem nem olhar para trás

Diziam que estava voltando

Para a casa de Satanás

Se era verdade eu não sei

Mas aquele bicho não vi mais

Quando soube dessa conversa

Pensei que fosse lorota

Mas ouvi muita gente antiga

Confirmando essa prosa

E dizem que não tem sossego

E que ainda morrem de medo

De aquele cão vir bater na porta.