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AIS DE CANTADOR
 

 
Abraçado com a viola,
sinto medo de chorar,
que meu coração saltita,
parece que vai voar,
com saudades da morena
que deixei no meu lugar.
 

Lá no sertãozinho meu,
ficou a moça mais bela,
por nome de Filomena,
mas com ar de Cinderela.
Mesmo tendo graça boba,
já nasci tantã por ela.
 

Ganhei o mundo cantando,
pra mode sobreviver,
por não me dar com lavoura
nem d’outro ofício saber;
só tratos dando à viola,
sei cantorias fazer.
 

Enquanto meço sextilhas,
aqui, na grande cidade,
minha morena, também,
talvez morra de saudade:
ela de mim sente falta,
eu, dela, necessidade.
 

Necessidade, senhores,
não tomem noutro sentido,
que com Filomena tenho
é muito amor escondido,
latejando no meu peito,
ver do mosquito o zumbido.
 

Muitas vezes, neste pinho,
que trago por companhia,
da deusa do meu sertão
ouço a voz da poesia...
Ela me bota cantante,
eu canto muita heresia.
 

Ando bobo, tresloucado,
sei que saio dos limites;
dou até de ser piegas,
no lirismo dou palpites,
disserto coisas românticas,
tenho à moça paixonites.
 

Agora mesmo convido
a você, com muito amor,
para daí, Filomena,
estes ais de cantador,
nos ponteios da viola,
ouvir com muito fervor.
 

Quiçá, por telepatia,
você vai me ouvir o canto
que da viola se inflama:
cantiga mudada em pranto,
emoções que se transformam
em saudades, outro tanto.

 

Fort., 17/01/2015.  
Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 17/01/2015
Reeditado em 17/01/2015
Código do texto: T5104723
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