Meu Nome Sou Eu
Certa vez na madrugada
Sem saber direito a hora
Depois de um tempo acordado
O sono pra voltar demora
Decidi contar em verso
Como se deu o processo
Da minha vida até agora
Nasci no mês de janeiro
No dia vinte e seis
Não demorei no parto
Nasci logo de uma vez
Foi no ano noventa e dois
E dois anos depois
O Brasil foi campeão outra vez
Se foi sexta ou sábado
Não lembro muito bem
Pois já faz vinte e dois anos
A memória não vai além
Toco violão e sou desenhista
Brinco de escritor e artista
E redijo cordel também
O meu nome foi minha mãe
Que tirou de um dentista
Raniere Moura Mendes
Fica assim na escrita
Queria ser dono do mundo
Mas como bom vagabundo
Resolvi ser desenhista
Desenho desde novo
Foi um dom da criação
Passava o dia deitado
Riscando papel no chão
Mamãe falava com brabeza:
Tomara que quando cresça
Ele ganhe um dinheirão!
Desde os tempos de menino
Sempre fui muito calado
Na escola e em casa
Sempre muito fechado
Gostava de ver desenho
E mostrava meu empenho
No papel estampado
Quando nos meus quinze anos
No auge da rebeldia
Meu pai falava: anarquista
Nasce e morre no mesmo dia
Vou lhe falar com clareza
Saiba que maluco-beleza
Nessa casa não se cria
Mesmo cortando minhas asas
Eu não lhe tiro a razão
Meu pai era inteligente
Homem de bom coração
Mas pra ver ele zangado
Bastava pisar no seu calo
Que o homem virava o cão
Inventei de ser roqueiro
Mas guitarra não tocava
E se eu não cortasse o cabelo
Meu pai mesmo cortava
Minha banda tem nome singelo
Esquadrão Cachorro Amarelo
O povo dizia que gostava
Dizer que sou bonito é muito
Feio também é demais
Que na briga da beleza
Ganho somente de satanás
Mas isso não me preocupa
Pois amigo filho-da-puta
Não tenho por onde ter mais
Durante a adolescência
Fui o tipo alto e magrelo
E por causa de minha cor
Ganhei o nome de amarelo
Antigamente me zangava
Desse apelido não gostava
Mas hoje não me martelo
Nunca fui um bom aluno
Da escola eu não gostava
Quando eu não matava a aula
A aula é que me matava
Sentava lá no fundão
Não arrumava confusão
Pois nem ao professor eu falava
Comecei a usar óculos
Por uma falha na visão
Como sempre fui muito tímido
Só andava olhando pro chão
Meus amigos avacalhavam
Dos meus óculos caçoavam
Mas eu não dava atenção
Quando pensava no futuro
Ficava um pouco deprimido
Será que meu talento
Um dia vai ser reconhecido?
Mas, por agora não sou nada
E andando pela beirada
Eu passo despercebido
Quando completei dezoito anos
Havia perdido a santidade
Comecei a beber cerveja
E chegar em casa tarde
Meu pai dizia; viva direito
Tu já podes ser preso
Pois já é maior de idade
Meu pai sempre falava;
Meu filho tenha cautela
Por isso ando sossegado
Não dou passo maior que a perna
Mas sem um tostão no bolso
Não podia pagar um almoço
Pra agradar minha donzela
Tive uma namorada
Veja só como se deu
Inventei de me engraçar
Com a irmã de um amigo meu
Ele me dizia irado:
Se fizer algo de errado
Quem vai lhe pegar sou eu!
Mas como tudo na vida
Que nasce um dia se vai
Quando completei vinte e um anos
Perdi o meu bom pai
Durante uma semana sofreu
No sétimo dia morreu
Dei adeus pra nunca mais
A partir desse dia
Ficou difícil sorrir
A tristeza se alojou
E de mim não quis sair
Com certeza posso dizer
Que foi a pior dor que senti
Mas essas coisas acontecem
Não tem como evitar
Não se pode viver de tristeza
É preciso superar
Meu pai deixou-me de herança
Humildade e confiança
Dele sempre vou lembrar
Por aqui vou encerrando
Esse enredo particular
Uma vida bem vivida
Isso posso confessar
Mais ainda sou novo
Um moleque muito moço
Cheio de história pra contar.