Largados a própria sorte
Eu era rei e fui escravizado.
Nunca perdi minha essência
Sou rei por não me submeti;
Aos comandos dos senhores de engenhos e capataz;
Meu sangue corre nas veias;
Não precisar ser doutor;
Na época do Brasil colonial;
Mesmo nascendo liberto;
Não tiveram coração;
Escravizaram o meu corpo;
Mas minha mente ninguém mandava não;
Até nome de batismo;
Foi obrigado aceitar;
Mas, as minhas origens ninguém pode negar
O respeito a minha luta você deve respeitar;
Quem acreditar pode a mim se juntar;
Essa luta não é minha;
É pra quem se achegar;
Ensinaram-me o catecismo;
Mas as minhas crenças ninguém pode apagar;
Eu não sou de cativeiro;
Nem de ficar em cima de um altar;
A minha origem é respeito e tem seu lugar;
Se Você aceitar eu tenho muito a compartilhar;
Preservo minhas raízes;
Sei cantar e gingar;
No quilombo quando eu chegava ;
Era meu verdadeiro lugar;
Estava entre os meus;
Quem fugia podia entrar;
Não foi fácil a minha jornada ;
Sou um Cabra da peste resistente;
Desde menino aprendi a lutar;
Capoeira é minha essência;
Eu já gosto de me espalhar;
Não sou de ficar preso aos grilhões;
Eu vou logo te avisar;
Meu espírito é liberto;
Você deve respeitar;
Não há homem nesse mundo;
Que me prenda num lugar;
Foram muitas as minhas escapadas;
Quem ta preso quer fugir;
As vontades dos feitores;
Essa lição não aprendi.
Não me prendam em cativeiro;
Meu caminho eu escolho;
Liberdade é meu lema;
O tronco não é meu lugar;
Tenho a força da resistência;
Astúcia não vai me faltar;
Meu gingado de capoeira;
Quero ver você encarar;
Só me para se for á bala;
Eu vou logo te avisar;
Capoeira é minha essência;
Não vim aqui para apanhar;
Sou livre de pensamento;
Você tem que me respeitar;
Não sou bicho pra ter mordaça veja lá o que você vai falar;
O que, mais me ofende;
Foi à traição entre os meus;
Preto batendo no preto;
Castigando sem pensar.
Chorava mãe chorava filho;
Sem ninguém para escutar;
Depois criaram uma lei;
Para alguns escravos nascido;
Chama-se vento livre;
Alguns ficariam libertos;
Mas qual seria a sorte? Dos que não tinha sido escolhido;
O acoite do chicote era o prêmio meu amigo;
Para quem não aceitasse;
As ordens de quem mandava;
Como pode ter o homem sua liberdade confinada?
Vou reunir os meus;
Eu vou para lutar;
Não aceito as mordaças;
E você que baixa a cabeça;
Para qualquer situação;
Erga sua cabeça;
Tenha coragem meu irmão;
Afinal foi com muita luta;
Quem aprendemos a lição;
Negro também é gente;
Tem sentimentos e coração;
O sangue que corre nas veias;
É igual o seu meu irmão;
Não precisa me ferir;
Pra saber de cor ele é;
Eu sou de paz não sou de guerra;
Quero apenas o meu lugar;
Dentro da sociedade;
É só você respeitar;
As origens de minha etnia;
Quer apenas seu lugar;
Hoje ocupo espaço;
Que é meu por direito;
Meu legado é sagrado;
Deixo na história as marcas dos seus feitos;
Os espaços universitários;
Vamos todos ocupar;
O negro deixou de ser escravo;
Para poder protagonizar;
Procurando seu espaço;
Escrevendo sua história;
Quem é rei será sempre rei;
Pois escrevemos nossa história;
Levante sua cabeça;
E não baixe nunca mais;
Educação faz a diferença;
Na vida de quem quer algo mais;
As cotas estão ai;
É direito não é esmola meu rapaz;
Aqui eu me despeço;
Com a lição de lutas pela liberdade.
Que senzalas só existem;
Se você permitir;
Escreva sua história liberte-se das mordaças;
Que justiça social só é justiça se for de igual para igual;