A NOITE.
Era eu dentro da noite
E a noite a dentro ia
A noite era imensa
E a tudo percorria
Com a boca aberta de sede
Todo sereno bebia.
E majestosa se erguia
Do chão ate o infinito
Tão fria como o mármore
Escura como o granito
Parecia em seus mistérios
Uma deusa lá do Egito.
Dela nasceu o mito
A lenda a ficção
Mas a noite não tem culpa
De tanta imaginação
Deram a noite istorias
Sem lhe pedir permissão.
A noite foi criação
Do artista Soberano
Pintou tudo por igual
O sagrado e o profano
O pano branco o dia
A noite o escuro pano.
O imponente oceano
De perigosas tragadas
De navios tão potentes
De pequeninas jangadas
Se curva a noite grande
Em suas ondas salgadas.
O verde das esmeraldas
O brilho do diamante
Por mais nobre que seja
Não é o mais importante
A noite é uma grande pedra
O mais escuro brilhante.
Na tribo de um xavante
No quilombo dos palmares
Pelos mangues do Recife
Na fartura dos pomares
A noite transborda o escuro
Como um cálice nos altares.
Dentre todos os milagres
Esse ELE aprimorou
Foi no cafezal celeste
E uns caroços torrou
Soltou o pó no espaço
E anoite assim se formou.